"Soares ficaria fulo com resultado do PS." António Campos diz que "Costa criou Chega e Pedro Nuno pô-lo líder da oposição"
António Campos, histórico socialista, considera, na TSF, que o partido "deu uma volta de 180 graus"
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Um partido político desligado dos problemas reais das pessoas, que se enredou em casos que só deram mais força à extrema-direita. É desta forma que António Campos, em declarações à TSF, lê o atual momento político. Considerado o braço direito de Mário Soares e secretário de Estado Adjunto no IX Governo Constitucional, garante que o fundador do PS “ficaria fulo e atirava-se a isto tudo porque o partido deu uma volta de 180 graus” sobre o que era a sua estratégia.
“A estratégia de Mário Soares foi sempre localizar o PS ao centro, ter a noção de que o perigo era a extrema-direita e, por isso, logo no segundo governo chegou ao pé de mim e disse: 'Vou fazer uma aliança com o CDS'”, conta. António Campos lembra que, na altura, chamou maluco a Mário Soares, mas que ele argumentou que precisava de fazer essa aliança porque o perigo em Portugal era a mentalidade de 48 anos de fascismo. Pediu ajuda a António Campos, na altura coordenador do partido, para trazer para o partido pessoas da ala esquerda, entre elas Jorge Sampaio. “Em 15 dias eles inscreveram-se no partido”, recorda.
António Campos é crítico das políticas de António Costa, que considera ser o responsável pelo crescimento do Chega. ”O Costa criou o Chega e este [Pedro Nuno Santos] pôs o Chega como líder da oposição em Portugal”, lamenta. O antigo deputado da Constituinte e Assembleia da República e governante nos I e II Governos constitucionais considera que Pedro Nuno Santos fez a campanha eleitoral do Chega “ligada aos pequenos casos”. ” Não se discutiu o país”, lamenta.
O histórico socialista, que recusou estar presente nas comemorações dos 50 anos do partido celebradas há dois anos, acusa António Costa, “com quem teve guerras e chegou a cortar relações”, de também ter conseguido destruir a esquerda. “O doutor Cunhal considerava que o PS era o inimigo, mas com ele conseguimos criar o Serviço Nacional de Saúde e Mário Soares foi eleito Presidente da República”, afirma. “O que o Costa fez foi acabar com isso tudo e passar os eleitores do PCP para o Chega”, acredita.
Quanto aos cenários de governabilidade, António Campos espera “que o PS se porte bem“ e acredita que quem for eleito secretário-geral do partido será uma questão de tempo até chegar a primeiro-ministro. ”Mas se tiver cabeça, pensar no país e pensar na democracia em Portugal”, adverte.
António Campos foi deputado à Constituinte e à Assembleia da República, vindo mais tarde a ser eleito deputado ao Parlamento Europeu. Foi secretário de Estado do Fomento Agrário, e da Estruturação Agrária, no I e II Governos Constitucionais, e secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Mário Soares, no IX Governo Constitucional.