Socialistas e sociais-democratas "passivos" perante "agressividade" do Chega. Revisão constitucional à direita é improvável
Em entrevista à TSF, Ferro Rodrigues sublinha que o que está em causa é "a Constituição herdada do 25 de Abril com tudo o que teve, e tem, de progressivo e moderno" e defende que a eleição do próximo secretário-geral do partido deve acontecer já antes do verão
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O antigo presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues responsabiliza o PS e o PSD pela ascensão do Chega nas eleições legislativas de domingo e confessa duvidar que os sociais-democracias "entrem no caminho" da revisão constitucional à direita.
Em declarações à TSF, o socialista começa por reconhecer que os resultados de domingo são "muito negativos" para o partido mas também para a "democracia portuguesa". Afirma que o povo se "exprimiu em votação livre e secreta" e cabe agora a cada um fazer um balanço dessa vontade.
Adianta não ter "dúvida nenhuma" de que o crescimento do partido liderado por André Ventura é uma "situação totalmente normal" porque advém da resposta "passiva" que os socialistas e sociais-democratas assumiram perante os ataques diretos do Chega.
Enquanto o Chega passou todo o tempo da campanha com enormes cartazes, por todo o lado, a acusar de corrupção o PS e o PSD, nem o PS, nem o PSD, atacaram o Chega. Permitiram passivamente que o Chega, sendo o partido mais agressivo, foi o que menos foi atacado pelos grandes partidos.
Ferro Rodrigues defende ainda que tem de haver uma distinção entre os adversários políticos e os adversários da democracia, como é o caso do partido Chega.
"Uma questão são os adversários políticos na democracia, outra coisa são os inimigos da democracia e do regime democrático. Faço uma distinção, como sempre fiz, entre o PSD e a extrema-direita", destaca.
Confrontando com a possibilidade de uma revisão constitucional à direita, depois da proposta da Iniciativa Liberal, o antigo líder do Parlamento considera que o que está em causa são os valores herdados do 25 de Abril, desde logo o seu caráter "progressivo, moderno e de defesa da igualdade entre homens e mulheres, da iniciativa privada, mas também pública, e, sobretudo, da defesa do Estado social". Ainda assim, confessa que não acredita que os sociais-democratas avancem nesse sentido.
Duvido muito que o PSD entre nesse caminho. Para fazer uma revisão constitucional à direita teria de ser feita com o Chega. E, no dia em que o PSD se aliar ao Chega de uma forma tão clara, para o efeito da revisão dos fundamentos do regime, aí o próprio PSD vai-se dividir.
Ferro Rodrigues recusa ainda que o PS esteja em risco de extinção e aponta que o partido agora tem de olhar para o futuro para se adaptar às novas realidades. Ainda assim, e porque o "mundo não para à espera" do partido, é preciso que algumas decisões sejam tomadas "mais rapidamente", enquanto que outras exigem "mais calma e tranquilidade".
Ao contrário do defendido por alguns socialistas, acredita que a eleição do novo secretário-geral deve acontecer antes do verão, mas o congresso do partido deve ser adiado para que possa haver tempo para refletir.
"O Congresso do PS pode ser perfeitamente adiado para já depois de uma discussão séria nas bases do PS e ao nível da sociedade civil. Agora, a eleição do novo secretário-geral do PS deverá ser, certamente, antes do verão, sob pena de haver um clima de intriga externa e também interna que será muito negativa para o partido", argumenta.
Apesar de não identificar preferidos entre os nomes que já ecoam para a substituição de Pedro Nuno Santos — como é o caso de José Luís Carneiro, Mariana Vieira da Silva e Daniel Adrião — entende que todos têm "condições para poder liderar" o projeto do PS, ressalvando que o cargo acarreta uma "mudança de vida substancial".
