Spinumviva. Hugo Carneiro sugere investigar "registos telefónicos" de jornalista, sindicato diz que "não é admissível"
À TSF, Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas, assume vir a pedir esclarecimentos ao grupo parlamentar do PSD, caso o partido não venha rapidamente dizer que não era aquela mensagem que queria transmitir
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O deputado do PSD Hugo Carneiro sugeriu esta quinta-feira que a Polícia Judiciária investigue os registos telefónicos do jornalista que noticiou a nova lista de clientes da Spinumviva, mas o Sindicato dos Jornalistas avisa que essa prática não é admissível num Estado de direito.
"O senhor deputado Pedro Delgado Alves ontem, na reunião às 14h30, disse que ele próprio tinha acedido à informação e hoje terá dito que não a divulgou. Portanto, isso é importante essa informação, mas nós sabemos que nomeadamente as autoridades judiciárias têm outros instrumentos que, por exemplo, no Parlamento não temos. É muito fácil ver registos telefónicos. Quem é que ligou à pessoa que depois fez a notícia? É muito fácil isso", disse o social-democrata na CNN Portugal.
Hugo Carneiro vai mais longe e acredita que a pressão fará que o responsável ceda: "Eu creio que talvez nem seja necessário chegar a tanto e que a pessoa que divulgou essa informação sentirá a pressão e talvez tenha a coragem - se não tiver vergonha, pelo menos tenha a coragem - de vir a público dizer: ‘Fui eu, errei ao divulgar essa informação.’”
Contactado pela TSF, Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas, avisa que não é bem assim.
"É com uma profunda mágoa que ouvimos essa declaração. Num Estado de direito, não funciona assim. Não é fácil. A preservação das fontes deve acontecer e deve ser uma prioridade para proteger a liberdade de imprensa e temos de ver a declaração como uma tentativa de condicionar o trabalho jornalístico, o que não pode acontecer. Não, não é fácil descobrir quem acedeu e depois ir verificar quem ligou a um jornalista. Ora, isso não é, de todo, uma prática que seja admissível num Estado de direito", argumenta.
Luís Simões afirma não acreditar que "o PSD queira condicionar o trabalho jornalístico" e, por isso, admite que "foi um ato, uma declaração, bastante infeliz" de Hugo Carneiro.
O sindicalista assume que pode vir a pedir explicações ao grupo parlamentar social-democrata: "Vamos pedir, temos de pedir porque nos parece grave. Ou o PSD, muito rapidamente, vem a terreiro dizer que não é aquela mensagem que queria passar, ou teremos de pedir ao PSD um esclarecimento sobre a frase que nos parece, e eu sublinho isso, de uma infelicidade tremenda."
Na quarta-feira, o Expresso noticiou que o primeiro-ministro entregou uma nova declaração à Entidade para a Transparência, referindo mais empresas com as quais a Spinumviva trabalhou e fê-lo na véspera do frente a frente com o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.
No debate, o líder da AD disse que não foi ele a tornar pública qualquer interação, dizendo ter respondido a uma solicitação que lhe foi feita, depois de o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, o ter acusado de não ter “idoneidade para o cargo que ocupa”.
O Observador avançou que Pedro Delgado Alves assumiu numa reunião no Parlamento ter acedido a informação que o primeiro-ministro e líder do PSD enviou à Entidade para a Transparência e que partilhou informação com Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda.
