"Um atentado à família militar." Ex-comandante fala em "gestão danosa" no caso Tancos
Na Comissão do Inquérito, o antigo comandante das Forças Terrestres defendeu que o chefe do Estado-Maior do Exército e o ministro da Defesa deveriam ter-se demitido mais cedo, evitando "uma gestão danosa".
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António Faria Meneses apresentou-se perante os deputados de traje civil, depois de ter "batido com a porta" quando considerou "errada" a decisão tomada pelo então chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) Rovisco Duarte de exonerar os comandantes responsáveis pela segurança das instalações dos paióis nacionais de Tancos.
Na Comissão de Inquérito, o antigo comandante das Forças Terrestres assumiu responsabilidades: "Se o Exército falhou em Tancos, eu falhei em Tancos." Defendeu, no entanto, que na altura, "não houve a assunção clara de responsabilidade militares e políticas" levando a uma "gestão danosa".
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Para o general Faria de Meneses, a demissão do ministro foi "o ponto de partida para o desgaste destas instituições do Estado".
"No dia em que bati com a porta, disse claramente: isto só se resolve com a demissão de um chefe militar e uma demissão ao nível político e este cenário fica fechado", defendeu o antigo comandante das Forças Terrestres.
Aos deputados, Faria de Meneses relatou uma conversa telefónica com o então CEME, Rovisco Duarte.
"O senhor General ao telefone não me explicou os motivos, disse-me só: 'estou a ser pressionado, tem que se fazer alguma coisa' e portanto decidi exonerar-se coronéis para não interferir na investigação." Questionado sobre se a pressão foi política, Faria de Menezes disse que prefere falar de "factos e não suposições", mas mostrou-se muito crítico da atuação dos responsáveis militares e políticos.
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"Isto é um atentado à família militar. No dia 1, às 20h30, assisti ao momento que considero mais vergonhoso da minha vida militar. Inqualificável! E digo isto com uma lágrima a sair do coração", disse o general na reserva numa referência à entrevista televisiva em que o CEME anunciou a exoneração dos cinco comandantes que mais tarde seria readmitidos.
O caso do furto de material militar em Tancos levou à detenção de sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem encenado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
A Comissão de Inquérito visa apurar as responsabilidades políticas neste processo e vai decorrer nos próximos meses.