Da esquerda à direita, ninguém arrisca dizer que não haverá acordo entre o governo e a Comissão Europeia por causa do Orçamento. Opinião de eurodeputados portugueses no Fórum TSF.
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Paulo Rangel é categórico: a Comissão Europeia "perdeu a confiança no Estado português", quando "percebeu que estava a ser enganada". O eurodeputado do PSD acredita que o processo já "causou uma perda de credibilidade" e não tem dúvidas quanto aos motivos.
Rangel fala numa "espécie de malabarismo, de habilidade, de subtileza, de pouca transparência" nas contas que o governo entregou em Bruxelas.
Em causa, os valores que o executivo pensa gastar com os ordenados dos funcionários públicos e com os pensionistas. "Esta ideia de que estas quantias são apenas extraordinárias, por isso, não teriam de contar para o défice estrutural, é uma habilidade que pôs em causa a confiança" em Portugal.
Mesmo assim, Paulo Rangel confia que vai acabar por haver acordo, desde que o governo seja "sensato" e capaz de "arrepiar caminho".
Já Nuno Melo, do CDS, tem sérias dúvidas de que o entendimento seja possível. O eurodeputado centrista entende que o aumento do rendimento dos portugueses, proposto pelos socialistas, serve apenas para "iludir".
"Acreditar que o crescimento, "milagre dos milagres", vai acontecer; a descoberta da pólvora que a Europa ainda não viu e, portanto, Portugal vai surpreender... é mesmo conversa para quem quiser ouvir e acreditar!"
Acordo com cedências das duas partes, acredita o PS
À esquerda, Pedro Silva Pereira, eurodeputado do PS, fala num processo normal de diálogo e acredita numa solução com cedências de ambos os lados. "Foi sempre assim que aconteceu com os outros países", afirma. O antigo ministro de José Sócrates deixa um "recado": "a Comissão Europeia tem também aqui uma face a defender, visto que esteve envolvida em pareceres técnicos emitidos no passado".
Pedro Silva Pereira admite ainda que, por detrás de "alguma resistência" de Bruxelas ao esboço de orçamento português, possa estar a situação em Espanha. Considera que não é "nada especulativo" admitir essa hipótese, mas acredita que isso não será motivo para "uma objeção definitiva" às contas portuguesas para este ano.
Pelo PCP, João Ferreira questiona a legitimidade da Comissão para dizer a um "Estado soberano com que linhas se deve coser" e pede mão firme ao governo.
Defender os interesses de Portugal "exige uma atitude de afrontamento", defende o eurodeputado comunista. João Ferreira traz para a discussão o caso de França: "o Presidente francês não discutiu isto em nenhum conselho europeu. Disse simplesmente que a França não vai cumprir as metas orçamentais previstas. Alguém teve uma atitude semelhante à que se está a ter com Portugal?".
João Ferreira entende que o exemplo francês demonstra que, na Europa, há "países de primeira e países de segunda", uma situação que define como "inaceitável".
Para Marisa Matias, há que sublinhar que ainda não são conhecidas as propostas de Bruxelas, mas a eurodeputada do Bloco de Esquerda lembra que "a Comissão Europeia nunca chumbou nenhum orçamento".
Marisa acredita que não será o português o primeiro. "Seria, de facto, um escândalo (...) Não acredito que o faça, porque seria uma declaração de guerra aberta". A antiga candidata presidencial encontra, nesta polémica, uma "agenda ideológica" para travar a "mudança, o fim da austeridade" em Portugal.