Tomada de posse é "cansativa, mas gratificante". Santana Lopes recorda momento que já viveu quatro vezes
À TSF, o atual autarca da Figueira da Foz relembra a primeira (em 1986, como secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros) e a última (em 2004, como primeiro-ministro) cerimónia de tomada de posse.
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Pedro Santana Lopes já compareceu, por quatro vezes, a uma cerimónia de tomada de posse como membro de um Governo. A primeira e a última foram as mais marcantes. Em 2004 (a última), Santana Lopes era sucessor de Durão Barroso no cargo de primeiro-ministro. Já em 1986 (a primeira), foi escolhido por Cavaco Silva para secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros.
À TSF, o atual autarca da Figueira da Foz abre o livro de memórias sobre estes dois momentos. "Na primeira eu tinha 29 anos, [quando fui escolhido para] secretário de Estado da Presidência do Conselho e lembro-me que fiz questão de ir buscar os meus pais a casa deles, de os levar comigo no carro e de ir para a posse com eles. Eles estiveram lá numa sala ao lado a assistir e depois lembro-me que, por causa disso, o meu pai a seguir escreveu-me uma carta muito bonita. Ficaram sensibilizados com esse meu gesto", conta.
"A primeira vez é obviamente muito importante, foi no primeiro Governo de Cavaco Silva. Eu era muito novinho e depois como primeiro-ministro foi um momento muito especial. Foi a 17 de julho de 2004. Eu queria que fosse a 19 de julho, que foi o dia do nascimento do doutor Sá Carneiro e também o dia da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, mas não era possível. O sábado era a 17 de julho e a posse foi nesse dia", recorda.
Santana Lopes relembra que, quando ia no carro com os pais para a sua primeira tomada de posse, falaram sobre as "dificuldades do percurso de vida". "Os meus pais (pais de seis filhos) não eram ricos e trabalharam muito para nos educar. Já morreram os dois e não nos deixaram quaisquer bens em herança. Às vezes, há amigos meus, ou pessoas conhecidas, que discutem heranças e eu digo-lhes: 'Sabem em que famílias é que não há problemas? Quando não há bens para discutir.' Portanto, quando íamos no carro, falámos das dificuldades do percurso, do liceu, de como a minha mãe me acompanhava nas orais", diz.
Em 1986, no final da cerimónia de tomada de posse, Santana Lopes recebeu uma carta do pai. Reza assim a história: "O meu pai era uma pessoa de contas certas. Às vezes, pedia-lhe dinheiro, além da semanada. Depois, quando comecei a ganhar dinheiro, dizia-me: 'Olha, ainda me deves algum dinheiro.' Era meio a brincar, meio a sério. E eu dizia-lhe: 'Puxa, o pai não se esquece de nada, qualquer dia está a pedir-me o dinheiro das fraldas de quando era bebé.' E ele acabou aquela carta a dizer: 'A dívida das fraldas está saldada.' Nunca me esquecerei disso."
Ao novo Governo que toma posse esta terça-feira, Santana Lopes aconselha uma boa hidratação e o conforto de uma cadeira, sempre que possível. Pela sua experiência, é o melhor a fazer e, depois, aproveitar o dia com a família.
"As posses a seguir à minha foram com as pessoas sentadas na sala, porque é muito tempo. Nos cumprimentos não podem estar sentados, mas durante os discursos sim. Está muito calor, é muito complicado. No meu caso, veio muita gente da Figueira, além de outros pontos do país. É uma cerimónia demorada, mas temos de ser gratos às pessoas. Depois, no resto do dia lembro-me que fui jantar com a minha família. O Conselho de Ministros foi no dia seguinte, domingo, e no sábado a cerimónia foi à tarde e depois jantei com a família", afirma.
O dia da posse "é muito cansativo, mas gratificante". "Lembro-me de outras posses, como a do engenheiro Guterres em que o professor Cavaco Silva desmaiou. São cerimónias pesadas, tem de se ter cuidado. A minha família tem pessoas com bronquite e asma, portanto, se o ambiente está pesado é complicado estarem ali. Eu lembro-me do doutor Nunes de Almeida, que era presidente do Tribunal Constitucional, na minha posse como primeiro-ministro ao pé da janela sentado a abanar-se com um leque, o doutor Mota Amaral também a abanar-se com um leque, depois ouviu-se um barulho de pessoas a cair nas outras salas, o barulho de sirenes de ambulância lá fora. Foi complicado, mas é muito bonito", considera.
"É sempre uma honra e eu desejo que o doutor Luís Montenegro hoje possa viver plenamente esse momento. E não quero deixar de dar uma palavra a quem cessa hoje as funções, que é o doutor António Costa, que procurou fazer o melhor dele próprio durante oito anos em alturas muito difíceis e quero, como português, e não sou da área política dele, agradecer-lhe o que ele trabalhou pelo país, deu o melhor de si próprio. Não tenho dúvida nenhuma disso e desejo toda a sorte para o doutor Luís Montenegro", acrescenta.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e os 17 ministros do XXIV Governo Constitucional tomam posse esta terça-feira às 18h00, no Palácio Nacional da Ajuda, menos de um mês depois da vitória da AD nas legislativas de 10 de março.
Este será o terceiro executivo que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, empossará - mas o primeiro liderado pelo PSD, partido a que já presidiu - e nenhum dos dois anteriores cumpriu o mandato até ao fim.