Após o encontro com o primeiro-ministro, o presidente angolano, João Lourenço, garantiu que o pior já passou e deixou elogios à postura de Costa e Marcelo num momento de "mal-estar" entre os dois países.
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Referindo-se ao 'caso Manuel Vicente', o presidente angolano, João Lourenço, disse, esta terça-feira, depois do encontro com o primeiro-ministro português, que havia uma "razão evidente" para um "mal-estar na relação" entre os dois países. Era um "irritante", como lhe chamou António Costa, e que levou mesmo o líder angolano a considerar que o tratamento dado ao caso era uma "ofensa" para Angola, mas, agora, João Lourenço garante que as dificuldades que afastavam Portugal e Angola estão sanadas.
Para isso, entende o presidente angolano, muito contribuíram o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: "Os dois executivos, tendo noção da necessidade de um acordo, mantiveram um diálogo permanente, e eu gostaria de reconhecer a postura assumida, quer pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa, quer pelo primeiro-ministro, António Costa", disse João Lourenço.
E, junto de António Costa, depois de um encontro considerado de "grande importância", o líder angolano fez questão de se dizer satisfeito pelo envio do processo que envolve o antigo vice-presidente angolano, Manuel Vicente, para as autoridades judiciais de Angola: "Felizmente ultrapassou-se essa situação que, de alguma forma, incomodava as nossas relações".
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Ainda a propósito deste assunto, João Lourenço esclareceu também o facto de ter afirmado que o tratamento dado ao caso era uma "ofensa" para Angola, sublinhando que "houve factos que justificaram" a afirmação. Mas o presidente angolano defende que nem tudo ficou explicado.
"Havia um acordo que, por razões que até hoje desconhecemos, não estava a ser respeitado. A partir do momento em que foi respeitado, aqui estamos aos abraços", disse, no Palácio Presidencial, em Luanda.
Presidente angolano rejeita ter "ignorado" Portugal
Na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro com António Costa, o presidente angolano, João Lourenço, foi ainda questionado sobre o porquê de ter "ignorado" Portugal há um ano, quando, no primeiro discurso oficial, excluiu Portugal da lista de principais parceiros de Angola.
Um ano depois, João Lourenço garante que "não houve uma intenção deliberada" de deixar de lado um país com o qual Angola partilha uma parte importante da história. "A expressão ignorar parece-me muito forte", disse, depois de afirmar que "muitos outros países" não foram citados.
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"Alguns deles com relações históricas e tradicionais com Angola, alguns cujos filhos verteram o seu sangue em território angolano na defesa da independência e soberania de Angola, como é o caso de Cuba", acrescentou, na conferência de imprensa que se seguiu à assinatura de onze acordos entre Portugal e Angola - como é disso exemplo o Programa de Cooperação Estratégica que vai vigorar até 2022 - e protocolos em áreas como a fiscalidade ou o transporte aéreo.
Angola, Portugal e um FMI que já não é o mesmo, diz Costa
Outros dos temas a surgir na conferência de imprensa conjunta de António Costa e João Lourenço foi o do programa de assistência financeira que está a ser negociado entre Angola e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A questão, feita por uma jornalista angolana, teve que ver com as afirmações de João Lourenço durante a visita oficial à Alemanha, na qual afirmou que o pedido de assistência não era igual ao de Portugal, que começou em 2011.
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"O que eu queria dizer aos angolanos era que não se tratava de um programa de resgate, a título de exemplo do que aconteceu em Portugal e também na Grécia", esclareceu o chefe do Governo de Angola, que, logo de seguida, foi apoiado nessas declarações pelo primeiro-ministro português: "Concordo a cem por cento com o presidente João Lourenço".
E acrescentou: "Angola não é Portugal e é natural que os programas sejam distintos, assim como também o FMI que assinou um acordo com Portugal já não é o FMI que é hoje, porque também aprendeu seguramente com o programa português que há coisas que não devem ser feitas", afirmou António Costa, que, depois da visita de dois dias a Angola, ruma até Salzburgo, na Áustria, para participar numa numa cimeira informal dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE).