Um escolhe o que nacionaliza, outro o que privatiza. PCP e IL em debate com visões antagónicas
No debate que opôs o liberal Rui Rocha ao comunista Paulo Raimundo, os dois novos líderes partidários discordaram praticamente em tudo. Até quando se lhes pergunta se as próprias lideranças vão a teste nas legislativas.
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Rui Rocha admite que as próximas eleições de 10 de março serão um teste à nova liderança da Iniciativa Liberal (IL). No debate televisivo que, esta noite, colocou frente a frente Rui Rocha e Paulo Raimundo, o presidente da IL afirmou também que os cargos não são o que interessa à IL, num eventual futuro acordo para viabilizar um Governo liderado pelo PSD.
"Obviamente que as lideranças vão a votos", reconheceu, garantindo que tem como objetivo fazer o partido crescer. "Nós estamos preparados para governar, estamos preparados para transformar o país, os cargos não são o mais importante", assegurou o líder liberal.
Já Paulo Raimundo - também ele um novo líder, do Partido Comunista Português (PCP) - rejeita que sejam as lideranças a ir a votos.
"O que nós vamos avaliar no dia 10 de março não é a liderança do partido A, B ou C. (...) A questão fundamental não é "como é que o Paulo Raimundo se vai safar"", atirou. "A questão é se criamos ou não as condições para melhorar a vida das pessoas", frisou.
À boleia do caso da Madeira, a Justiça foi um dos temas fortes em cima da mesa, no debate. Rui Rocha censurou a demora da Justiça neste caso, mas recusa que caiba aos políticos
fazer reformas neste campo.
"Não é aceitável que alguém fique 21 dias detido. (...) É uma violação de direitos, liberdades e garantias e ninguém pode ficar tranquilo numa situação dessas", declarou, referindo-se à detenção do ex-autarca do Funchal, Pedro Calado, e dos empresários Avelino Farinha e Custódio Correia.
"Nós temos, em Portugal, uma questão com a corrupção. Mas não creio que atacar a Justiça seja a forma de a resolver", continuou Rui Rocha.
"O que é preciso, neste momento, é aplicar as medidas que estão na Estratégia Nacional Anticorrupção", defendeu. "Quando ouço "mexer na Justiça", aquilo que me vem à cabeça é intromissão do poder político na Justiça e, para isso, nós não estamos [disponíveis]", garantiu.
Já Paulo Raimundo considera que é preciso mais meios e recursos, para que os tempos da Justiça sejam mais rápidos. "Há uma perceção de falta de confiança na Justiça", constatou o secretário-geral comunista.
"Há uma questão que tem em conta toda esta problemática: os meios e os recursos. Andamos há um ano e meio a ser confrontados com as justas reivindicações dos funcionários judiciais, por exemplo", apontou Paulo Raimundo. "Mais funcionários [leva a] mais meios. Mais meios [levam a] mais despachos. Mais despachos [leva a] Justiça mais rápida", concluiu - numa visão oposta à de Rui Rocha, que defende que na Justiça, como noutros setores públicos, a remuneração varie com base em objetivos.
E num debate em que se confrontaram mesmo duas visões políticas antagónicas, Paulo Raimundo identificou aquilo que quer nacionalizar - "setores estratégicos, a saber: a banca, energia, telecomunicações" - e Rui Rocha aquilo que quer privatizar - "a RTP, a Caixa-Geral de Depósitos,...".
E se Rui Rocha pretende a redução de impostos para aumentar rendimentos, Paulo Raimundo espera que se aumentem os impostos do grande capital e subam os salários dos trabalhadores.
Divergências que se estendem à Saúde, com a Iniciativa Liberal a acusar o PCP de uma "cegueira ideológica" que prejudica os cidadãos, defendendo o recurso aos privados também neste setor, enquanto o Partido Comunista acusa os liberais de quererem fazer da Saúde um negócio.