Um mês de Governo da AD. Inês Cardoso destaca "muito marcante" polémica com IRS e as duas faces de Montenegro
Nesta análise ao primeiro mês de governação, a diretora do Jornal de Notícias destaca um primeiro-ministro a assumir o papel de chefe do Governo e de candidato.
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Faz esta quinta-feira exatamente um mês desde que o Governo da Aliança Democrática tomou posse. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e 17 ministros assumiram os cargos no Palácio Nacional da Ajuda menos de um mês depois da vitória da coligação nas legislativas de 10 de março.
Este é o terceiro Executivo a que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deu posse, mas é o primeiro liderado pelo PSD. Um Governo com apenas um mês que não escapou a polémicas.
No balanço da governação, a diretora do Jornal de Notícias, Inês Cardoso, aponta a polémica com o IRS como destaque depois de a oposição ter acusado o Executivo de querer avançar com um embuste depois de ficar esclarecido que a redução prevista de 1500 milhões de euros representa, afinal, um decréscimo de 200 milhões de euros a que se somam os 1300 milhões já aprovados pelo anterior Governo. Para Inês Cardoso, este caso influenciou de forma negativa o arranque da legislatura.
"Foi muito marcante na forma como o Governo arrancou e porque não é comparável com outras polémicas menores, como a de Nuno Melo, que acaba por amarrar mais o próprio ministro enquanto no caso do IRS estamos a falar de uma medida estruturante que afeta diretamente o primeiro-ministro porque foi ele, quer na campanha quer no próprio debate que marca a apresentação do programa e arranque do Governo, que deu a cara na discussão de propostas. Embora possa sempre dizer que não houve qualquer mentira, mas houve um erro de perceção, a forma foi alimentado esse erro coletivo de perceção marcou de forma muito negativa o arranque do Governo e acabou por ser difícil descolar dessa marca inicial, dessa polémica que é uma das grandes marcas deste mês de governação", defendeu à TSF Inês Cardoso.
A diretora do Jornal de Notícias encontra mudanças na postura do primeiro-ministro ao longo deste mês de trabalho. Considera que se tornou mais incisivo ao colar o PS ao Chega, assumindo o papel de chefe do Governo, mas também vestindo o fato de candidato.
"Nesta fase inicial optou, sobretudo, por um silêncio e uma grande contenção, nomeadamente quando era confrontado diretamente pelos jornalistas, alegando que não governa para fora ou para a imagem pública. Houve depois um segundo momento em torno da questão do IRS, que é o momento da votação de propostas e em que PS e Chega votam lado a lado a proposta apresentada pelo Partido Socialista. Luís Montenegro opta por ser mais incisivo, fazendo passar uma narrativa de colagem entre PS e Chega na forma como se uniram no Parlamento. Se, por um lado, esse momento expõe ainda mais a fragilidade do partido do Governo no Parlamento e as configurações possíveis que o deixam sozinho na governação, por outro lado também demonstra como o primeiro-ministro terá, no fundo, de fazer uma permanente gestão entre o seu papel como primeiro-ministro e, simultaneamente, o papel de permanente candidato porque está sujeito a ter de ir, a qualquer momento, às urnas", acrescentou a diretora do JN.
