"Um património de toda a gente." Maria da Graça Carvalho recorda Sá Carneiro e afasta aproximação a Ventura

Maria da Graça Carvalho
Foto: Gerardo Santos/Global Imagens (arquivo)
A presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro recorda o antigo primeiro-ministro como um líder que marcou a democracia, cuja visão "continua a guiar" políticos dentro e fora do PSD. Maria da Graça Carvalho recusa qualquer aproximação entre Sá Carneiro e André Ventura
Um político que deixa um legado de amor à liberdade e à democracia, que "ajudou Portugal a acabar com um período de 47 anos de ditadura". É assim que a presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro, Maria da Graça Carvalho, recorda o antigo primeiro-ministro, no dia em que se assinalam 45 anos da sua morte, no acidente aéreo em Camarate.
Para a atual ministra do ambiente, o 1.º líder do PSD foi "um político que deu esperança a Portugal e que foi essencial na construção do Portugal democrático".
"Ninguém pode perceber ou estudar o que é Portugal sem ler o que disse, o que pensou Francisco Sá Carneiro, sem perceber a visão que ele tinha para o país - uma visão de uma construção de um Portugal que ainda não alcançamos plenamente, mas de que não abdicamos", sublinha.
Maria da Graça Carvalho recorda ainda "o amor à liberdade, a democracia, o desenvolvimento para o bem-estar das pessoas" do antigo primeiro-ministro e diz que o legado que deixa influencia políticos e militantes além do PSD. "Tudo o que Sá Carneiro pensou e começou a pôr em prática é essencial e continua a guiar muito os políticos e a população em geral. Francisco Sá Carneiro é muito maior do que o partido social-democrata, é um património do país, é um património de toda a gente", afirma.
Talvez por essa influência é que o termo "herdeiro de Sá Carneiro" tenha voltado a surgir na atualidade. Em novembro, num almoço-debate, o líder do Chega disse que queria ser esse herdeiro, mas Maria da Graça Carvalho defende que Francisco Sá Carneiro tem princípios muito diferentes de André Ventura.
"Não há nada de comum entre André Ventura e Francisco Sá Carneiro. Francisco Sá Carneiro era um homem tolerante, cosmopolita, que aceitava os outros, aceitava a diferença e fazia da diferença um grande valor. Nada disto é comum a André Ventura", remata.
Maria da Graça Carvalho reflete ainda como é que o PSD de Francisco Sá Carneiro, um dos fundadores do partido, se compara com o PSD de agora. "O PSD atual vive muito os ensinamentos de Sá Carneiro e, por exemplo, a campanha das últimas eleições foi muito 'beber' ideias de Sá Carneiro. Até o próprio slogan, 'uma maioria maior', foi exatamente o slogan usado por Francisco Sá Carneiro na maioria absoluta que alcançou".
A ministra confessa que gostava de saber como seria Portugal hoje se o então primeiro-ministro não tivesse tido um final tão trágico. "A única coisa que me pergunto é o que teria sido de Portugal, como é que estaríamos hoje. Com certeza teríamos conseguido um desenvolvimento mais cedo se o dia 4 de dezembro de 1980 tivesse terminado de outra forma. Tivemos vários anos de estagnação em relação ao desenvolvimento económico, à burocracia", reflete. Contudo, Maria da Graça Carvalho considera que o legado do governante é imortal. "Sá Carneiro está connosco, a visão está connosco e muitos políticos e não políticos continuam a estudar, a citar e a ter Sá Carneiro como uma orientação e isso é muito importante".
A 4 de dezembro de 1980, Francisco Sá Carneiro morreu num acidente aéreo, quando a avioneta onde viajava com destino ao Porto caiu em Camarate, perto de Lisboa. A bordo seguiam 8 pessoas, incluindo o 1.º líder do PSD e Adelino Amaro da Costa, um dos fundadores do CDS e então ministro da Defesa Nacional. Ninguém sobreviveu.
