Visitas ao Quartel do Carmo: "A Revolução dos Cravos diz muito às pessoas de todo o mundo"
No Museu da GNR, no Quartel do Carmo - um lugar emblemático do 25 de Abril - os turistas e residentes estrangeiros são surpreendidos com estórias do dia que marcou o início da liberdade. As visitas guiadas em inglês são gratuitas, até 10 de maio.
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Deeter Struzyna trazia a lição estudada. Agora reformado, o advogado alemão sempre gostou de História e até já tinha lido romances sobre a Revolução dos Cravos. "Foi a minha mulher que vive em Portuga há 24 anos e fala fluentemente português que me falou destas visitas em inglês. Sei o que aconteceu no Largo do Carmo. E queria ver em primeira mão", afirma.
No Quartel do Carmo viveram-se as últimas horas de tensão antes da queda da ditadura. Era lá que estava refugiado o antigo líder do Governo Marcello Caetano antes de se render aos militares.
Deeter Struzyna já sabia que tinha sido uma revolução pacífica, feita numa altura em que o regime já estava decadente, mas foi apanhado de surpresa quando ouviu a guia dizer que no dia da Liberdade houve livros alvejados. Foi quando o capitão Salgueiro Maia deu ordem de fogo contra o quartel e as rajadas das metralhadoras atravessaram as janelas, as mobílias e os livros na biblioteca.
Também Gilda Maurice, que trocou França por Portugal há cinco anos, aproveitou para esclarecer dúvidas. Esta profissional do ramo da informática estava intrigada pelo facto de os militares terem disparado contra o edifício da GNR, já que alegadamente todos seriam forças fiéis ao regime. Outro mito desfeito foi o de que já não era Salazar que estava no poder, mas sim Marcello Caetano.
Deeter e Gilda participaram na visita guiada em inglês acompanhada pela TSF. Além de verem a exposição temporária “A GNR no 25 de Abril", foram ao Salão Nobre e à Sala da Rendição, onde foi entregue o poder ao general Spíonla. Estes espaços são habitualmente reservados ao uso exclusivo da GNR, mas têm estado abertos ao público no âmbito das comemorações de meio século de democracia.
No final da visita ao museu, os dois residentes estrangeiros foram ainda surpreendidos com a vista para o Rossio e Castelo de São Jorge a partir da varanda do quartel do Carmo.
A ideia de fazer visitas em inglês ao Quartel do Carmo surgiu no ano passado dado o elevado número de turistas de Lisboa.
"A Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril está instalada no Quartel do Carmo praticamente desde o início da nossa actividade, e percebemos que estes momentos de abertura do quartel são de enorme sucesso", afirma a comissária Maria Inácia Rezola.
"A proposta foi bem aceite e tem sido um sucesso. Os grupos vão crescendo, muitas vezes de forma inorgânica. Penso que pode ser um bom contributo para conhecer, não só a unidade da GNR como a História de Portugal, e em concreto, a da revolução", adianta a professora e historiadora.
Deeter e Gilda são apenas um dos perfis de visitantes do museu instalado no Quartel do Carmo. De acordo com Maria Inácia Rezola, o público-alvo é diversificado. A comissária recorda que durante a Jornada Mundial da Juventude receberam muitos jovens de todo o mundo: "Eram universitários, por exemplo da Europa de Leste, que comparavam as transições para a democracia nos países deles com a revolução portuguesa. Houve diálogos muito interessantes".
"Este ano ainda estamos expectantes. Penso que vamos ter públicos com interesses diferentes, mas todos querendo saber mais", até porque, sublinha Maria Inácia Rezola, a Revolução dos Cravos "diz muito não só aos portugueses, mas às pessoas de todo o mundo".
"Toda a gente quer saber mais, e vão-nos interrogando e exigindo mais detalhes, e outra cor para a História que todos querem conhecer", conclui.