Vitalino Canas não censura Pedro Nuno, mas oportunidade de diálogo poderia ter evitado queda do Governo
À TSF, o antigo porta-voz do PS refere ainda que o Presidente da República “está numa situação complicada”
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O ex-deputado Vitalino Canas considera que, medindo os prós e os contras, o PS podia ter dado oportunidade ao diálogo, mesmo em pleno debate da moção de confiança. Ainda assim, não “censura” a decisão de Pedro Nuno Santos e sublinha que também o Presidente da República "está numa situação complicada”.
“Sou adepto da negociação da diplomática e política. Acho que se deve sempre manter os canais abertos, mas não consigo ser excessivamente crítico em relação à postura fechada que o PS mostrou, porque, na verdade, as circunstâncias em que era oferecida a concertação eram circunstâncias já muito difíceis”, começa por dizer Vitalino Canas à TSF.
Para o antigo porta-voz do PS, também “não daria grande imagem da democracia as negociações de última hora com o Governo a recuar”. Por outro lado, “qualquer concertação mais apressada também poderia ser entendida como uma insegurança nas tomadas de posição [de Pedro Nuno Santos] e depois na sua execução”, considera.
Mas, mesmo assim, considerando os prós e os contras, acho que se deveria a ver se era possível evitar a queda do Governo nesta ocasião e a consequente realização de eleições antecipadas.
Quanto à atuação do Presidente da República, o antigo deputado sublinha que Marcelo “está numa situação complicada”, até porque está quase a deixar para sempre Belém.
“Nessas circunstâncias, a capacidade de influência também se esbate”, acredita. Além disso, Vitalino Canas entende que Marcelo “está muito condicionado pelas suas decisões anteriores”.
No fundo criou um procedente: a dissolução da Assembleia da República sempre que há uma crise política relacionada com o Governo ou com o primeiro-ministro.
Sobre o cenário político que se segue, Vitalino Canas reconhece que para o PS este não seria o momento para eleições legislativas, mas acredita que o partido está preparado. Ainda assim, perspetiva “um Governo frágil” e, por isso, apela ao PS e ao PSD para que garantam condições de governabilidade.
Condições mínimas de governabilidade só deixaram de acontecer porque houve esta manobra insensata por parte do Governo de apresentar uma moção de confiança, quando sabia que o PS não estaria disponível para viabilizar.
A crise política foi desencadeada há cerca de um mês após notícias sobre uma empresa familiar que pertenceu ao primeiro-ministro, a Spinumviva, levando à apresentação de duas moções de censura do Chega e PCP, ambas chumbadas. Face às dúvidas que os partidos continuaram a manifestar, o primeiro-ministro anunciou a apresentação de uma moção de confiança, rejeitada na terça-feira, que provocou a queda do Governo.
As dúvidas sobre antiga empresa de Luís Montenegro, que antes de ir para o Governo passou à sua mulher e mais recentemente aos seus filhos, levou o PS a apresentar uma comissão parlamentar de inquérito para produzir resultados num prazo de 90 dias. No debate em plenário, o Governo admitiu retirar a moção de confiança caso o PS reduzisse o tempo do inquérito para 15 dias, mas o PS rejeitou.
Após uma interrupção dos trabalhos durante meia-hora, o PSD fez saber que propôs ao PS que o inquérito durasse até final do mês de maio, ou seja, cerca de dois meses, proposta que também foi rejeitada pelo PS. O requerimento do PS para uma comissão de inquérito propõe um prazo de até 90 dias.