Vitorino “à beira de uma decisão”. Possível candidato a Belém critica Governo por restrições no acesso ao SNS
António Vitorino, em desfile de presidenciáveis, para “falar de migração no geral, que nada tem a ver com migrações para Belém”
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António Vitorino está “à beira” de tomar uma decisão quanto a uma candidatura à Presidência da República, mas não desfaz o tabu. A seu tempo “soará”, mas o socialista "não tem a preocupação de criar instabilidade" no PS, nem quer “criar suspense à volta” de uma potencial candidatura.
O antigo responsável pela Organização Internacional para as Migrações é o favorito da direção do PS para a corrida presidencial, embora António José Seguro já esteja no terreno, em pré-campanha, e não dependa qualquer decisão de um possível apoio socialista. O PS corre o risco de, no próximo ano, seguir para eleições, novamente, dividido.
“Não quero criar nenhum suspense à volta da candidatura. Eu estive a ponderar, estou à beira de tomar uma decisão. O que for, o que for soará”, respondeu, em declarações aos jornalistas.
Por estes dias, a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa recebe um conjunto de possíveis candidatos a Belém (Gouveia e Melo, António José Seguro e António Vitorino) e candidatos que já oficializaram a entrada na corrida (Marques Mendes e Mariana Leitão). Vitorino juntou-se ao desfile para “falar de migração no geral, que nada tem a ver com migrações para Belém”.
As migrações são, de resto, um tema “complexo” e “tóxico”, mas nem por isso o socialista deixa de abordar o assunto: “Se quisermos pensar Portugal sem tabus, há que pensas nas migrações.” As migrações fazem parte, “quer gostemos ou não”, e o possível candidato a Belém até já liderou a Organização Internacional para as Migrações.
Vitorino lamenta restrições no acesso ao SNS
O Parlamento discute, na fase de especialidade, a restrição no acesso de estrangeiros ao Serviço Nacional de Saúde, uma medida aprovada com os votos do PSD, Chega e CDS-PP, o que valeu uma reprimenda de António Vitorino. Até porque “não há nada como manter o equilíbrio nestas coisas”.
“Acho mal que o Governo tenha proibido o acesso dos imigrantes em situação irregular aos serviços de saúde. Acho que isso não ajuda e constitui um risco de saúde pública. O acesso aos serviços públicos é um tema muito sensível e determinante para garantir a integração”, defendeu.
O alerta de António Vitorino, que também preside ao Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, a convite de Luís Montenegro. Apesar da reprimenda, elogia o Governo por pedir aos patrões que garantam habitação aos trabalhadores imigrantes.
“Quando se recruta alguém é preciso garantir que essa pessoa é acolhida com dignidade e o elemento fundamental do acolhimento com dignidade é encontrar alojamento decente e digno”, acrescentou.
A olhar para o passado, quando milhares de portugueses deixaram o país e emigraram para “França ou [para] a Suíça”, António Vitorino pede agora: “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti.” Uma deixa que pode muito bem marcar o tiro de partida de Vitorino à corrida presidencial.