Vitorino pede ao PS que demonstre que há alternativas à "gritaria" e ao "protesto pelo protesto"
O antigo líder da Organização Internacional para as Migrações alerta que os partidos extremistas querem fazer voltar a "falsa segurança do nacionalismo estreito, sectário e egoísta".
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O socialista António Vitorino apelou este sábado ao Partido Socialista que ajude a demonstrar que há “propostas” para responder às “ansiedades” e “medos” dos eleitores insatisfeitos e que estes não têm de procurar a “gritaria”, o “discurso de ódio” e o “protesto pelo protesto” para melhorarem a sua situação.
Quatro meses depois do fim do mandato na liderança da Organização Internacional para as Migrações, o histórico socialista discursou no fórum Portugal Inteiro, no Porto, e deixou um desafiou o PS e às forças políticas "que acreditam na democracia pluralista”.
“Cabe-nos a nós dizer aos eleitores que na democracia, pela democracia, existem propostas para responder às suas ansiedades, aos seus medos, mas sobretudo às suas aspirações. Àqueles que sim, se sentem inseguros quanto ao futuro, que estão descrentes - e alguns mesmo podem até estar zangados com o atual estado de coisas -, nós no PS temos mais uma vez a responsabilidade histórica de demonstrar que não é a gritaria, não é o discurso do ódio, não é o protesto pelo protesto que pode melhorar a sua situação”, apontou Vitorino.
Com a agulha voltada para os partidos extremistas, o também antigo comissário europeu alertou que o objetivo destas forças é “minarem o projeto europeu por dentro e fazerem-nos voltar a falsa segurança do nacionalismo estreito, sectário e egoísta” e recorreu até à sabedoria popular: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. E nós sabemos bem com quem é que eles andam lá fora: andam com Le Pen, andam com a Liga Italiana, andam com a alternativa para a Alemanha. Andam com todos os extremistas.”
"É, pois, nossa a tarefa evitar que aqueles que estão desiludidos ou mesmo indignados sejam tentados a entregar-se ao protesto do voto pelo protesto porque isso representa uma desistência da Democracia e nós não queremos que nenhum português desista da Democracia", salientou o também antigo Comissário Europeu, a discursar no Porto.
Perante cerca de 400 pessoas e num discurso marcado por palavras de alerta contra o populismo de direita, António Vitorino considerou que é com "amarga ironia" que no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, Portugal esteja "confrontado com o desafio e a ameaça que representa para a nossa democracia o populismo radical de direita".
Para António Vitorino, que confessou estar "duplamente de volta a casa", ou seja ao PS e ao Porto, por onde foi eleito deputado à Assembleia da República em 1980, os socialistas têm também de demonstrar que sabem "ouvir e entender o grito de alma que um voto de protesto pode representar".
"Nós não somos insensíveis ao crescimento das desigualdades sociais, que a qualidade dos serviços públicos é essencial para a paz social, tanto em termos de saúde, habitação, educação, à proteção social como na qualidade dos serviços que são prestados aos cidadãos porque só assim se constrói um país com mais justiça social", considerou.
A memória de antigos secretários-gerais do PS, deixando de fora José Sócrates e António José Seguro, serviu de mote a António Vitorino para descreveu o atual PS: "Este é o PS que se orgulha da sua identidade, de 51 anos de combate pela liberdade e pela Democracia e pelas nossas convicções europeístas, como aprendemos todos com Mário Soares. Este é o PS que esteve sempre na primeira linha da defesa dos direitos humanos, da tolerância do respeito pelo outro, do dialogo entre civilizações, como nos mostrou o Jorge Sampaio."
E continuou: "Este é o PS da paixão pela Educação, pelas qualificações, pelo apoio aos mais desfavorecidos, de solidariedade e coesão social, é o PS da igualdade entre homens e mulheres, como nos mostrou o António Guterres."
Ainda sobre o tempo de António Guterres como secretário-geral do PS e primeiro-ministro, que estabeleceu as quotas em listas eleitorais, António Vitorino lembrou uma das maiores conquistas socialistas: "É por isso com orgulho que hoje vens que metade das listas que o PS apresenta no território nacional é liderado por mulheres pelo seu mérito próprio".
António Costa foi o líder que se seguiu, com Vitorino a salientar que mostrou um PS "do respeito pelos compromissos europeus, defensor das liberdades europeia na resposta à pandemia e na recuperação económica pós-pandemia".
Por fim, dirigindo-se ao atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, António Vitorino mostrou-se confiante na vitória dos socialistas nas eleições de 10 de março: "Caros secretário-geral Pedro Nuno Santos, este é o teu, o nosso PS, que os portugueses conhecem e sabem que está sempre presente".
"O PS que há 50 anos afirmava que quanto mais a luta aquece, mais força tem o PS, essa é a forma que te levará à vitoria", vaticinou.
