Havia uma canção que ficava no ouvido. Nela, o ator António Montez cantava "Srs. Da Constituinte, deputados de eleição, vejam lá se "finalmente", não nos lixam a nação!"
Corpo do artigo
Por aqueles dias, a política estava na rua e a rua estava na política.
Há dez meses que a Constituinte tentava acertar num texto que, nas palavras presidente Costa Gomes minimizasse os interesses partidários e permitissem uma constituição com "conceitos tão sólidos que garantam a estabilidade governamental" mas ao mesmo tempo "tão amplos que não limitem o progressismo revolucionário do Povo e das suas Forças Armadas".
Por outras palavras: uma "constituição revolucionária", "tão avançada que não seja ultrapassada, tão adequada que não seja flanqueada, tão inspiradora que seja redentora".
E que pudesse servir durante período "suficientemente longo".
A sessão inaugural, foi a 2 de junho de 1975, seguiram-se sessões plenárias sempre à "luz crua do dia" , para que ,como disse, mais tarde, Henrique de Barros que presidiu à Constituinte, o público pudesse ver Assembleia a funcionar "com virtudes e defeitos, acertos e erros".
Nessa sexta-feira, de manhã, durante quase 3 horas, foi lido o preâmbulo e cada artigo da Constituição. A tarefa era árdua para só uma voz: foram 3 os secretários que se revezaram para ler, em voz alta, o documento até ao artigo 312º, que fixava a entrada em vigor da Constituição, a 25 abril de 1976.
Quando a leitura começou havia apenas um exemplar perfeito , "em condições e revisto",
o presidente garantiu que ao longo do dia seriam distribuídos mais exemplares, pelos deputados.
Mas houve atraso na Imprensa Nacional, e só ao fim da manhã começaram a chegar algumas cópias ainda assim, edições "improvisadas".
À tarde decorreram as votações. A favor votam PS, PPD, PCP, MDP/CDE, deputados independentes, UDP e o deputado de Macau (ADIM). Só os 15 deputados do CDS votam contra.
No dia seguinte, justificam o voto considerando que a Constituição era "é paternalista" e "amarra o país ao um projeto socialista".
No momento da votação, uma voz grita "reacionários", regista o diário da sessão.
Logo o presidente diz que o "momento suficientemente emocionante não justifica certas intervenções".
Depois há aplausos e vivas à Constituição, a Portugal, e o hino surge espontâneo.
À noite, na sessão de encerramento - Depois dos discursos, António Arnaut, deputado secretário leu o decreto que aprova a Constituição depois foi só passar documento, para trás, para a mesa da presidência onde o presidente da República, Costa Gomes, logo ali, promulgou a Constituição que Henrique de Barros desejava pudesse resistir à prova do tempo".
Faltavam dez para as onze da noite quando foi encerrada a sessão.
A Constituinte em números:
132 sessões plenárias
500 horas de discussão
1000 horas de trabalho em comissões
1 falsa ameaça de bomba
250 deputados no início, 63 renúncias, 60 substituições, 247 deputados votaram Constituição
Sessão final teve 3 partes: (9.45h -12.50h ); (15.05 -18.05h); (22.13h- 22.50m)