"Vou continuar ligado à área da energia." Galamba sai (por agora) da política e vai dedicar-se à consultoria. Afastou-se de Pedro Nuno de quem não recebeu "um sinal"
O ex-ministro lamenta as circunstâncias que levaram à sua demissão e à queda do Governo, mas discorda que a PGR deva dar explicações no Parlamento. E responde a Montenegro sobre o uso do carro oficial: "Tem obrigação de conhecer a lei".
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Convicto da sua inocência, João Galamba afasta-se, por agora, da política e vai ser consultor na área da energia. A revelação foi feita numa entrevista à CNN Portugal, onde o antigo secretário de Estado da Energia e ex-ministro das Infraestruturas não fecha a porta a um regresso à política mas, para já, vai dedicar-se à consultoria.
"Neste momento afasto-me. Não quero tomar qualquer decisão definitiva. Tenho apenas 47 anos, ainda tenho muitos anos pela frente, espero eu, mas por agora sim. Vou continuar ligado à área da energia, vou prestar consultoria a internacional na área da energia", revelou Galamba.
O ex-ministro lamenta as circunstâncias que levaram à sua demissão e à queda do Governo, mas discorda que a procuradora-geral da República deva ser ouvida no Parlamento, como sugeriu o presidente da Assembleia da República.
"Discordo, percebo a questão suscitada pelo presidente da Assembleia da República. Como é evidente, a comunicação é muito importante e nenhuma Instituição funciona fechada sobre si mesma, mas não considero que a ida ao Parlamento da procuradora-geral faça qualquer sentido. O presidente da Assembleia da República teve cuidado com as palavras e disse que convidava a procuradora. A procuradora-geral da República não responde perante o Parlamento, não é politicamente responsável perante o Parlamento. Obviamente que é a responsável perante os portugueses e se entender que deve falar e explicar aos portugueses deve fazê-lo. Se não fizer, os portugueses certamente farão o seu juízo sobre o que se passa e sobre o comportamento da procuradora, mas ir ao Parlamento não me parece correto e não me parece, de facto, a sede própria para este tipo de comunicação", explicou o ex-ministro.
João Galamba acredita que, no final do processo Influencer, será considerado inocente.
"Desde o dia 7 de novembro que as notícias que têm saído têm sido bastante favoráveis para mim. Eu podia, de facto, aproveitar para fazer a minha defesa na televisão. Não o farei porque há uma sede própria, por respeito pelas instituições que tenho e acho que devo conservá-lo e pelo meu estatuto processual. Eu sou arguido por peculato, prevaricação e recebimento indevido de vantagem no processo em que tenciono prestar todos esclarecimentos. Obviamente que estou de consciência inteiramente tranquila em relação a tudo o que fiz. Sei tudo o que fiz, sei também tudo o que não fiz e aqui, permita-me citar António Costa: sei como é que este processo vai acabar. Este processo vai acabar obviamente ou com o arquivamento da acusação ou, se por qualquer razão existir uma acusação, acabarei por ser inocentado", afirmou.
Uma convicção de João Galamba, apesar de ainda não ter sido ouvido.
"Ainda não fui ouvido. Parece que fui escutado vários anos, mas ouvido não fui e imediatamente a seguir às buscas, dia 7 de novembro, apresentei um requerimento para ser ouvido e os meus advogados já insistiram para que eu pudesse ser ouvido. Ainda não fui. Também ainda não consultei o processo. Tudo o que sei do processo, em rigor, sei pela comunicação social", garantiu Galamba.
Nesta entrevista, João Galamba admitiu que as relações com Pedro Nuno Santos esfriaram e estranha que o secretário-geral do PS não o tenha contactado depois das buscas de que foi alvo.
"Não tenho proximidade com o secretário-geral do Partido Socialista neste momento, se é essa a sua pergunta. Já fomos mais próximos, digamos assim. Isso não sei, tem que lhe perguntar a ele. Nunca me disse nada nos últimos meses, nem no dia das buscas. Desde o episódio da TAP falei uma vez, muito pouco tempo depois e nunca mais falei. Já estávamos afastados há bastante tempo, mas se me pergunta se acharia normal ter tido algum sinal depois de a polícia me entrar em casa no dia 7 de novembro, acho que sim e não tive", admitiu o ex-ministro.
Sem querer entrar em detalhes sobre o processo Influencer, João Galamba quis, no entanto, responder às palavras do primeiro-ministro. Num Conselho de Ministros informal em Óbidos, Montenegro referiu que neste Governo não vão haver "casos Galamba", aludindo à utilização do carro oficial.
Em resposta, o antigo ministro citou Freitas do Amaral e garantiu que o uso foi sempre feito em proveito das funções que desempenhou.
"O atual primeiro-ministro nunca exerceu funções executivas, até se podia desculpar alguma ignorância nesta matéria, mas é jurista e, portanto, tem obrigação de conhecer a lei. As minhas filhas não têm avós em Lisboa e eu fazia questão sempre de ir buscar as minhas filhas à escola. Muitas vezes, se não tivesse uma reunião importante, ia com os meus motoristas buscar as minhas filhas à escola e posso garantir que todos os usos que fiz correspondem exatamente ao segundo ponto que referi: ou no exercício de funções ou em proveito delas, foram sempre em proveito das minhas funções. Primeiro como secretário de Estado e segundo como ministro. Não aceito que o primeiro-ministro para fins puramente populistas, porque a lei é clara. Não violei a lei em circunstância alguma. A lei está em vigor. Já agora, a título de curiosidade, refiro apenas que o professor Freitas do Amaral, na altura ministro de Estado e Negócios Estrangeiros, publicou um louvor em Diário da República onde agradece ao seu motorista da altura que prestava sobretudo serviços à família", acrescentou.