A TSF recorda as guerras travadas pelo antigo deputado e autarca que agora enfrenta a sua maior batalha política.
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Aos sessenta anos, feitos em agosto, Rui Rio avançou para a liderança de um partido que se habituou a vê-lo como o eterno candidato a candidato.
Leia aqui tudo sobre o Debate Final e sobre os dois candidatos à liderança do PSD
Esta é a maior batalha política do homem que escolheu a margem oposta à de Santana Lopes, logo na JSD, quando era apoiante incondicional do então primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão e Santana alinhava com Cavaco Silva.
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Rui Rio nasceu e cresceu no Porto. Da Escola Alemã terá retirado lições que reforçaram a imagem de rigor e racionalidade que gosta de sublinhar.
Economista, trabalhou sempre enquanto se dedicava à política cultivando um estilo contra corrente, independentemente dos dissabores que isso lhe provocou ao longo da carreira como deputado e autarca.
Numa entrevista ao programa Alta Definição da RTP, disse que a frase que o inspira é "Ainda que todos, eu não", porque não gosta se ser "uma Maria vai com as outras".
Foi por isso que, enquanto deputado, contrariando o sentido de voto do PSD, votou contra o Totonegócio - uma lei segundo a qual as receitas dos clubes geradas pelo Totobola nos doze anos seguintes serviriam para liquidar as dívidas ao fisco. E em 1998, votou a favor da interrupção voluntária da gravidez.
O eterno vice?
No curriculum partidário, Rui Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD, entre 1982 e 1984.
No PSD, chegou a secretário-geral com Marcelo Rebelo de Sousa e foi vice de três lideranças: Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, e Manuela Ferreira Leite.
Mas é preciso recuar aos tempos em que, como secretário-geral do PSD, abriu guerra aos militantes fantasma, para perceber como isso lhe valeu alguns anticorpos na máquina laranja.
O processo de refiliação, como ficou conhecido, tentou tornar mais transparentes as contas e o processo de votação interna. Rio acabou por demitir-se do cargo em desacordo o então líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa.
Luís Filipe Menezes, o inimigo íntimo
Em 2001, Rui Rio é escolhido por Durão Barroso como candidato à Câmara Municipal do Porto. Uma candidatura de " rutura".
"Uma vitória contra tudo e contra todos", sublinhou o candidato no discurso de vitória sobre o socialista Fernando Gomes.
Mas essa vitória foi, sobretudo, contra Luís Filipe Menezes, então líder do PSD Porto e autarca de Gaia, do outro lado do Douro, que não escondeu o desagrado perante escolha do líder.
Anos mais tarde, Rui Rio levou a oposição a Menezes ao ponto de apoiar o independente Rui Moreira quando Menezes decide tentar a sorte no Porto e falha.
"O candidato do meu partido ter-me-á feito mais oposição do que o Partido Socialista. Se eu ficasse calado seria hipócrita e oportunista", justificou em entrevista à RTP.
Doze anos à frente da Invicta: FCP, Metro e "insensibilidade cultural"
Três mandatos traduzem-se no período mais longo de um autarca à frente da Câmara Municipal do Porto.
Rui Rio nunca escondeu que lhe desagradava a "promiscuidade entre política e futebol". Foi com ele que os festejos das vitórias do Futebol Clube do Porto saíram dos Aliados para Gaia.
A caminho do Euro 2004, o Futebol Clube do Porto suspendeu as obras do novo estádio, ao ver alterada a área comercial. Rui Rio e Pinto da Costa trocam acusações de "birra".
O autarca entrou também em choque com os grafitters quando mandou limpar as paredes da cidade e no Fórum da TSF, depois de eleito, renovou a promessa de campanha de acabar com "as centenas de arrumadores de carros".
Avançou com o programa Porto Feliz, que viria a ser abandonado pelo Governo uns anos depois.
Rui Rio reclama o feito de ter posto em ordem as contas da Câmara e em dia os pagamentos, mas os críticos denunciaram a falta de sensibilidade cultural.
A concessão do Teatro Rivoli e os cortes nos apoios ao Fantasporto foram alguns dos pontos de atrito.
"Há um conjunto de agentes culturais que atuavam e que não tinham público, que dependiam dos subsídios da Câmara e que me estão imensamente gratos porque eu acabei com os subsídios", ironizou quando interpelado no programa Gato Fedorento, da SIC.
"Uma pessoa de direita, quase fascista como eu não tem ideias culturais nenhumas", disse Rui Rio em tom sarcástico.
Entre 2002 e 2010, Rui Rio foi administrador não executivo da Metro do Porto, mas acabou por passar a pasta a outro depois de uma polémica sobre as remunerações recebidas.
Num primeiro momento, Rio pediu que esse vencimento fosse reduzido a um terço, a Inspeção-Geral de Finanças respondeu que isso não seria "razoável". Rio insistiu e mandou processar apenas o valor de um terço do vencimento de autarca. Mais adiante, quando o Estado lhe pede a devolução da verba recebida,
Rio irrita-se e indica para o lugar o vereador do Urbanismo.
Um Rio à margem de certa maneira
Depois de sair da câmara do Porto, Rui Rio anda "por aí", pelo país.
É um dos nomes que as vozes da área social-democrata imaginam em Belém. Francisco Pinto Balsemão, o militante número um do PSD, é um deles. E avisa:
"Os prazos vão encurtando e o cavalo do poder raramente passa mais de uma vez à porta de quem o pode, em determinado momento, montar".
Mas Rio mantém-se arredado da primeira linha.
Cruzou-se, várias vezes, em palcos de debate ameno com António Costa. Ambos em sintonia sobre a necessidade de acordos de regime.
Foi o que aconteceu numa conferência organizada pela TSF e pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, sobre "A política, os políticos e a gestão dos dinheiros públicos".
Rui Rio propunha então um "entendimento" a dez anos.
"O importante é a capacidade dos protagonistas porem o interesse nacional acima de tudo e não o interesse partidário, assim pode-se conseguir um entendimento de regime", defendia Rui Rio.
Já António Costa acrescentava que "a questão básica tem a ver com a confiança".
Em abril de 2015, o psiquiatra Carlos Mota Cardoso, amigo o social-democrata, lança o livro "Raízes de Aço", onde revisita o percurso pessoal e político de Rio. Começa a cheirar a candidatura, embora não se saiba ao quê.
Em Sintra, há dois anos, perguntaram-lhe se estava preparado para assumir a liderança do PSD, respondeu que "as pessoas é que têm que saber avaliar isso".
Hoje parece conhecer a resposta.
O Pensamento de Rio
Regionalização: Primeiro estranha-se e depois entranha-se
Rui Rio chegou a fazer campanha contra a criação de regiões, mas com o tempo diz ter encontrado méritos na ideia. Defende um debate "sério" sobre o assunto a par com a descentralização de organismos do Estado. Sugeriu, por exemplo, que o Tribunal Constitucional fosse transferido para Coimbra.
Os alertas sobre a dívida
Desde os tempos de deputado, ao lado de Manuela Ferreira Leite, Rui Rio alertou contra os perigos de uma dívida pública elevada.
No ano passado, deixou como hipótese académica: um imposto, com uma meta acima de 8 mil milhões, para pagar os juros da dívida pública, com redução do IVA, IRS e IRC para que não houvesse agravamento fiscal.
A Tríade Imperfeita: Sistema político, Justiça e Comunicação Social
No diagnóstico crítico que Rui Rio faz de Portugal, existem três temas de paragem obrigatória: a reforma do Sistema Político (chegou a alinhar com a ideia de que a abstenção se traduzisse em cadeiras vazias na Assembleia da República); o "estado deplorável" da justiça que "não consegue condenações" (sugeriu, entre outras coisas, a criação de cursos de gestão judicial, para formar gestores especializados em tribunais); e a Comunicação Social ("um pilar da democracia" cuja liberdade deve acabar "à porta da liberdade de todos nós").
Caso não existam mudanças nestas áreas, Rui Rio considera que "o país corre o risco de caminhar para uma ditadura sem rosto".