Combater a corrupção é meter a mão no ninho de vespas e "já sentimos as picadelas"
João Lourenço comenta as críticas de Isabel dos Santos e José Eduardo dos Santos, mas usa uma analogia angolana para falar sobre o combate à corrupção: "Tínhamos noção de que estávamos a mexer no marimbondo e que podíamos ser picados."
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Questionado sobre se com a tentativa de repatriar os capitais ilegalmente retirados de Angola, o presidente angolano estava a "brincar com o fogo", João Lourenço assume que sim, mas diz que não vai deixar de o fazer.
"Se estamos a brincar com o fogo, temos noção das consequências desta brincadeira; o fogo queima, importante é mantê-lo sob controlo, não deixar que ele se alastre e acabe por se transformar num grande incêndio. (...) não temos medo de brincar com o fogo, vamos continuar a brincar com ele, com a noção de que vamos mantê-lo sempre sob controlo."
Escusando-se a comentar as críticas do antigo Presidente José Eduardo dos Santos e da empresária Isabel dos Santos , que falam numa crise política eminente em Angola, João Lourenço fala do combate à corrupção com uma metáfora mais angolana:
"Tínhamos noção de que estávamos a mexer no marimbondo e que podíamos ser picados".
"Já começámos a sentir as picadelas, mas isso não nos vai matar, não é por isso que vamos recuar, é preciso destruir o ninho do marimbondo", vincou o governante.
"Angola tem 28 milhões de pessoas, mas não há 28 milhões de corruptos, o número é bastante reduzido e há uma expressão na política angolana que diz que somos milhões e contra milhões ninguém combate".
Numa série de mensagens divulgadas no Twitter, Isabel dos Santos disse que a situação em Angola "está a tornar-se cada vez mais tensa, com a possibilidade de se juntar à crise económica existente, uma crise política profunda".
"Greve nacional dos médicos com 90% de adesão, quebra do poder de compra em 170%, fome nas famílias apesar do petróleo em alta", condenou.
Isto no mesmo dia em que o seu pai, José Eduardo dos Santos, fez uma declaração garantindo que não deixou os cofres públicos vazios.
"Gostaríamos de esquecer que o petróleo existe e passar a viver de outras formas de economia (...) Angola tem um potencial a adormecido e para o tirar desse estado de letargia contamos com a ajuda dos empresários portugueses", disse João Lourenço.
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O Presidente da República de Angola, João Lourenço, inicia na quinta-feira a sua primeira visita de Estado a Portugal. O programa prevê, durante três dias, deslocações ao Porto e à base naval do Alfeite, além de Lisboa, sendo a primeira visita oficial a Portugal de um chefe de Estado angolano em praticamente dez anos.
A visita de Estado começa com cerimónias militares em Belém, onde João Lourenço é recebido, ao fim da manhã, por Marcelo Rebelo de Sousa. Às 15h00 o presidente angolano e o presidente da Assembleia da República discursam numa sessão solene em São Bento, e mais tarde, nos Paços do Concelho, João Lourenço recebe, das mãos de Fernando Medina, as chaves da cidade de Lisboa.
Além do chefe de Estado e da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, a delegação angolana integra vários ministros, com a perspetiva de assinatura de acordos bilaterais.