"Passado é passado." O "irritante" não deixa rancores, destaca João Lourenço.
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Marcelo Rebelo de Sousa vai visitar Angola no próximo ano, numa "data a acertar pelas diplomacias", anunciou o chefe de Estado angolano.
"Os amigos querem-se juntos", destacou, João Lourenço durante a sua intervenção no Palácio de Belém, no início da sua visita de Estado de três dias a Portugal.
"Vamos assinar 12 instrumentos de cooperação, apenas 12 porque não pretendemos esgotá-los enquanto o Presidente Marcelo não visitar Luanda."
"Estamos a dar oportunidade de, durante a sua visita a Angola no próximo ano, em data que as diplomacias vão acordar, podermos também assinar instrumentos de cooperação que venham consolidar os nossos laços de amizade e cooperação económica", acrescentou João Lourenço.
O "irritante" não deixa rancores
Questionado se o "irritante" caso que envolve Manuel Vicente no âmbito da Operação Fizz foi ultrapassado, João Lourenço diz que "nunca existiu nenhum irritante nas nossas relações".
"O que se passou é que da parte de Portugal havia o incumprimento de um acordo que existia e o que Angola fez foi recordar a um país amigo a necessidade de respeitar o acordo. Só havia duas saías: denunciar o acordo ou cumprido (...) Angola só exigiu que se fizesse isso."
"Quem no inicio hesitou em respeitar o acordo acabou por respeitá-lo, disse João Lourenço, referindo-se à Justiça portuguesa.
"O irritante desapareceu em definitivo. Não ficam rancores, antes pelo contrário. O que é passado é passado", assegurou o chefe de Estado angolano.
Presidente meteu a mão no ninho de vespas e já foi picado
João Lourenço foi ainda questionado sobre se, com a tentativa de repatriar os capitais ilegalmente retirados de Angola, o presidente angolano estava a "brincar com o fogo".
"Se estamos a brincar com o fogo, temos noção das consequências desta brincadeira; o fogo queima, importante é mantê-lo sob controlo, não deixar que ele se alastre e acabe por se transformar num grande incêndio. (...) não temos medo de brincar com o fogo, vamos continuar a brincar com ele, com a noção de que vamos mantê-lo sempre sob controlo."
O combate à corrupção em Angola pode ser imaginado com uma metáfora mais angolana "tínhamos noção de que estávamos a mexer no marimbondo e que podíamos ser picados". O marimbondo é, numa das línguas nacionais do país, um ninho de vespas.
"Já começámos a sentir as picadelas, mas isso não nos vai matar, não é por isso que vamos recuar, é preciso destruir o ninho do marimbondo", vincou o governante, escusando-se a comentar as críticas do antigo Presidente José Eduardo dos Santos e da empresária Isabel dos Santos , que falam numa crise política eminente em Angola.
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"Angola tem 28 milhões de pessoas, mas não há 28 milhões de corruptos, o número é bastante reduzido e há uma expressão na política angolana que diz que somos milhões e contra milhões ninguém combate".
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, inicia na quinta-feira a sua primeira visita de Estado a Portugal. O programa prevê, durante três dias, deslocações ao Porto e à base naval do Alfeite, além de Lisboa, sendo a primeira visita oficial a Portugal de um chefe de Estado angolano em praticamente dez anos.
A visita de Estado começa com cerimónias militares em Belém, onde João Lourenço é recebido, ao fim da manhã, por Marcelo Rebelo de Sousa. Às 15h00 o presidente angolano e o presidente da Assembleia da República discursam numa sessão solene em São Bento, e mais tarde, nos Paços do Concelho, João Lourenço recebe, das mãos de Fernando Medina, as chaves da cidade de Lisboa.
Além do chefe de Estado e da primeira-dama, Ana Dias Lourenço, a delegação angolana integra vários ministros, com a perspetiva de assinatura de acordos bilaterais.