Os partidos da maioria elogiam apelo do Presidente da República ao consenso interpartidário, enquanto a oposição considera que o último discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril foi "um fraco testamento".
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A porta-voz do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, disse hoje que o melhor do discurso é o facto de ser "mesmo o último discurso de Cavaco Silva enquanto Presidente da República no 25 de Abril, o último discurso de um Presidente que nunca se sentiu confortável com o cravo da Revolução, e é também o último discurso de um Presidente da República que nos últimos anos tem vindo ao parlamento falar como se fosse o Governo quem está a falar", afirmou.
Catarina Martins referiu que ficou com dúvidas se "não seria Passos Coelho ou Paulo Portas quem estava a fazer a intervenção", dado que "todas as áreas em que o Governo mais tem falhado às pessoas foram as elogiadas por Cavaco Silva", nomeadamente a educação, a saúde e a justiça.
Para a dirigente bloquista, Cavaco Silva "afirmou-se como aliás se tem afirmado, como o garante da coligação de direita e o representante da coligação PSD/CDS", e acusou o PR de não fazer um discurso de Presidente da República, mas sim "um discurso de defesa do Governo e um discurso de campanha eleitoral para PSD e CDS".
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou que o discurso de Cavaco Silva nas comemorações do 25 de Abril, no parlamento, foi "de um fraco testamento", considerando que falar em coesão social é "desprezar uma realidade existente".
O secretário-geral do PCP sublinhou ainda que "a forma como [Cavaco Silva] considerou Portugal um dos países com mais coesão social é desprezar uma realidade existente, designadamente essa exploração, esse empobrecimento, esse infernizar a vida a tantos e tantos portugueses".
O líder do Partido Comunista disse ainda que, no seu discurso, o Presidente da República tinha a intenção de "preparar os portugueses para novos sacrifícios futuros". "Descontada a identificação com a propaganda do Governo do país a dar a volta, procurou valorizar os sacrifícios, a exploração e o empobrecimento que se verificou durante estes anos, para tentar preparar os portugueses para novos sacrifícios futuros", declarou o dirigente.
O deputado de "Os Verdes" José Luís Ferreira acusou hoje o Presidente da República de proferir uma intervenção que foi "um aplauso às políticas do Governo" e de pedir "consensos em torno da austeridade".
"Este não é o caminho. O senhor Presidente da República quer consensos em torno da austeridade para tornar definitivo aquilo que foi sempre apresentado como provisório", disse.
Por outro lado, o vice-presidente do PSD José Matos Correia aplaudiu as referências do Presidente da República à necessidade de consensos, responsabilizando o PS por não terem sido possíveis compromissos em áreas estratégicas como a Segurança Social.
"É importante que o sentido futuro da intervenção do Presidente da República seja tido em conta sobretudo no que toca à questão dos consensos e dos compromissos. O país tem ainda problemas difíceis para resolver e se alguns continuarem a rejeitar essa necessidade será seguramente mais difícil para Portugal", afirmou.
Questionado se este não será apenas um discurso retórico, depois de PSD e PS já terem publicado rejeitado qualquer tipo de entendimentos, inclusive a nível de acordos eleitorais, o vice-presidente social-democrata defendeu que o seu partido mantém a disponibilidade para compromissos.
Já o porta-voz do CDS-PP, Filipe Lobo D"Ávila, considerou hoje que o Presidente da República fez um "discurso bastante realista" do "esforço que o país fez nos últimos anos", salientando também o apelo ao entendimento das forças políticas.
Para o CDS-PP, o Presidente fez "o reconhecimento de que o país hoje está melhor, cresce do ponto de vista económico, e que deve deixar o conjunto de procedimentos por défice excessivo". Por outro lado, Lobo D"Ávila sublinhou a importância do apelo "a uma política de compromisso entre todos os partidos políticos, para que os partidos políticos se consigam concentrar naquilo que são as propostas para o país e não propriamente na política assente em insultos".