A 14.ª vez de Metallica em Portugal foi como se fosse a primeira
No último concerto da digressão europeia, os Metallica levaram consigo uma multidão ao Passeio Marítimo de Algés. Os anos passam, mas a qualidade da banda norte-americana é permanente.
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Normalmente associamos a palavra romaria a algo divino, mas pode perfeitamente ser a melhor definição para o concerto dos Metallica no NOS Alive. Durante a tarde e início de noite, ainda era possível para um espectador se deslocar para perto do palco, mas, depois do concerto de Royal Blood, a tarefa ficou cada vez mais difícil.
Os fãs apaixonados começaram a chegar em barda, prontos para cantar e aproveitar o 14.º concerto do grupo em Portugal. Houve algum atraso em relação à hora marcada para o início do espetáculo, mas nada que aborrecesse a plateia, até porque o festival sabe entreter em todos os momentos, mas, para alguns, a espera de minutos pareceu de horas.
Mal se vislumbraram as primeiras imagens nos ecrãs gigantes, a multidão que encheu o Passeio Marítimo de Algés começou a esboçar sorrisos. Melhor ainda foi o momento em que "The Ecstasy Of Gold" - música de Ennio Morricone que costuma abrir os concertos de Metallica - se começou a escutar. Feito o aquecimento, todos estavam prontos para mais de uma hora de um concerto que prometia ficar na história do festival.
O ruído ensurdecedor avisou: James Hetfield, Lars Ulrich, Robert Trujillo e Kirk Hammett chegaram. "LISBOA!", gritou o vocalista, fazendo prever o que se seguia - um começo com muita intensidade e pronto a quebrar a barreira natural do som.
A primeira música a soar foi Whiplash, um dos primeiros sucessos do grupo norte-americano. Na mesma onda de heavy metal, Creeping Death foi um dos momentos que mais fez o público vibrar, talvez porque a energia ainda não tinha sido sugada por mais de uma hora e meia de concerto em que estar quieto não é uma opção e a energia da plateia é capaz de contagiar o mais cético dos festivaleiros.
No meio de algumas paragens, James Hetfield aproveitou para saudar o público português. O concerto no NOS Alive marcou o último da tour da banda pela Europa, mas a nostalgia não tinha espaço para assumir destaque. "Estão vivos?", perguntou, recebendo um "yes!" convincente da plateia presente em Algés.
Pela noite e madrugada dentro, foram muitos os sucessos a destacar. Nothing Else Matters puxou dos galões do público, numa comunhão entre a voz do vocalista e a rouquidão de quem já tinha cantado em todas as músicas com um entusiasmo vibrante.
A "família Metallica" apareceu em peso, como referiram. Pais com os filhos nos seus ombros, casais a aproveitar o momento daquela que, provavelmente, seria a sua banda favorita e ainda muitos telemóveis em riste com a videochamada ligada para que as pessoas que não se puderam deslocar ao concerto também pudessem aproveitar o momento. A lotação esgotada não permitiu que todos pudessem ter a oportunidade de ver a banda ao vivo.
Até ao final, destaque para os clássicos Seek And Destroy ou Sad But True. A despedida foi anunciada, mas o público esperou ansiosamente pelo encore, pois muitas das músicas mais marcantes ainda não tinham sido apresentadas. Com tantos álbuns, é difícil todos os fãs ficarem plenamente satisfeitos, porque alguma música favorita irá ficar de fora.
Foi no momento que antecedeu a parte final do concerto que a bandeira de Portugal invadiu os ecrãs do palco principal do NOS Alive. As músicas Damage Inc. e One começaram a soar a despedida anunciada, mas não sem antes ouvirmos Master of Puppets. O público não deixou escapar nenhuma parte da letra de um dos temas mais icónicos da banda, onde o "Master! Master!" quase silenciou as potentes colunas do recinto.
"Quem me dera chegar assim aos 58 anos", ouviu-se no meio da multidão, sobre James Hetfield. É verdade, a banda começa a envelhecer e é inevitável a descida de rendimento, mas ao longo do concerto, ao contrário do que seria de esperar, tudo foi soando cada vez melhor.
Voltem sempre, Metallica. O 14.º concerto não pode ser o último em Portugal, e a multidão que se deslocou a Algés deverá ser tida em conta, tornou o concerto ainda mais memorável, provando que vão ser sempre bem recebidos no nosso país.
