A ajuda chega até de Espanha. Há 500 mil kits da JMJ para montar numa corrida contra o tempo
Os trabalhos arrancaram no dia 1 de julho. Em Setúbal, voluntários de todas as gerações não baixam os braços e chegam a fazer 40 mil kits num dia.
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O pavilhão é gigante. Assim que se entra, é impossível contar o número de caixas que saltam à vista. Lá dentro estão guardadas garrafas, t-shirts e outros objetos indispensáveis que fazem parte dos kits da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Também é difícil contar as linhas de montagem que, sem parar, asseguram que a capacidade de trabalho cresce de dia para dia. São 28 filas de mesas improvisadas em cima de paletes, onde centenas de peregrinos tentam bater recorde atrás de recorde. Tudo acontece na zona industrial de Setúbal, num pavilhão cedido por uma empresa da região.
Numa das filas, o ouvido deixa-se levar pelas cantigas de outras culturas. Canta-se em castelhano. É essa a escolha musical de Juan Peña. O jovem espanhol não resiste em cantarolar a música que vai ecoando de uma pequena coluna portátil.
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"Estou cá desde domingo e vou estar até sábado. Só para montar kits", explica. Perguntamos-lhe o que o traz aqui. "A culpa é da minha tia", responde apressadamente.
O caminho da fé trocou as voltas a esta família. Para a tia e os cinco sobrinhos, a zona industrial de Setúbal acabou por ser o destino. Mas o plano inicial era outro. "Íamos fazer os Caminhos de Santiago, mas uma amiga perguntou-me porque é que não ia fazer voluntariado na JMJ. Então perguntei se podíamos ajudar e disseram que sim. Somos 6".
Apesar do trabalho ser repetitivo, por aqui parece não haver margem para cansaço ou tristeza. O que há é muito calor. Muitos dos voluntários têm a camisola completamente transpirada, porque o trabalho é também fisicamente exigente. Não é o caso de Margarida Filipe, que, apesar da genica invejável com que cumpre a tarefa, não dá nenhum sinal de cansaço.
"Hoje só aqui nesta linha de montagem já conseguimos fazer mais de 2 mil kits", garante a voluntária. "Uma mochila tem uma t-shirt vermelha ou verde, uma garrafa, um terço, quando há. Agora estamos sem terços. Depois ainda vão ser acrescentados o chapéu panamá e a fita das credenciais".
Um pavilhão que vai ficar na história
O trabalho já é quase que automático. A lição está mais do que aprendida, como explica à TSF Liliana Ribeiro, a coordenadora desta missão. "Nos primeiros dias começámos com 10 a 15 mil kits. Mas já tivemos dias com 30 ou 40 mil. Agora, cada vez mais, o processo já está muito mais automatizado. Estamos a bater recordes", afirma orgulhosa.
Este pavilhão vai, certamente, ficar na história da Jornada Mundial da Juventude, não só pelas muitas horas de partilha que aqui se vivem, mas por uma notícia que chegou do Vaticano na manhã de um domingo quente de julho. Liliana Ribeiro estava com Américo Aguiar, o Bispo Auxiliar de Lisboa, no momento em que o também presidente da Fundação JMJ recebeu a notícia de que vai ser nomeado cardeal pelo Papa Francisco.
"Eu e uma colega estávamos lá quando o D. Américo estava a fazer chamadas, a receber a notícia. Ele estava um bocadinho nervoso. Tivemos de lhe dar água para ficar um bocadinho mais calmo. Foi mesmo muito emocionante. Toda a gente ficou muito emocionada. Foi um dos melhores dias, se não mesmo o melhor dia da assemblagem dos kits", recorda a jovem voluntária.
Enquanto conversamos, os empilhadores de serviço não param. Há muitas caixas, já fechadas, que estão a ser transportadas de um lado para o outro, para estarem prontas a seguir viagem para as paróquias. No total, são sete os kits que estão a ser preparados: para peregrinos, voluntários, bispos, padres, convidados, comunicação social e forças de segurança.
O trabalho junta voluntários de todas as idades. Para Maria Amália Ribeiro, já reformada, tudo se faz bem com tanta alegria em redor. "Somos as mais jovens", brinca. "Sinto-me feliz por poder participar. Tenho pena de não ter forças para fazer mais. A idade já pesa um bocadinho", confessa a voluntária que vem de Corroios.
A idade ou a condição física não são desculpa para não ajudar nesta tarefa. Que o diga Constança Nona que, apesar de estar grávida, não recusou o convite. "Somos dois sempre a trabalhar o dia inteiro. A minha equipa é muito simpática, e já me concedeu uma cadeira para me sentar de vez em quando para descansar um bocadinho. Mas depois retomo o trabalho", afirma em jeito de brincadeira.
De vez em quando, lá se ouvem uns gritos eufóricos. "Conseguimos fazer sete paletes de caixas com kits." É o recorde do dia. Quantos mais recordes forem batidos, mais próxima vai estar a meta. Ainda há muito trabalho pela frente para garantir que os 500 mil kits vão estar prontos.