A bastonária "incómoda" e o candidato que quer "isenção". Enfermeiros votam hoje
Há quatro listas que apresentam candidaturas, duas com candidaturas a bastonários e às várias secções regionais, enquanto outras duas são apenas dirigidas a órgãos regionais, uma da Região Autónoma dos Açores e outra da Madeira.
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Mais de 70.500 enfermeiros são chamados esta quarta-feira a votar para escolher os representantes da sua ordem profissional, havendo quatro listas candidatas, mas apenas duas com elementos candidatos a bastonários.
Segundo os cadernos eleitorais publicados no site da Ordem dos Enfermeiros, há quatro listas que apresentam candidaturas, duas com candidaturas a bastonários e às várias secções regionais, enquanto outras duas são apenas dirigidas a órgãos regionais, uma da Região Autónoma dos Açores e outra da Madeira.
A atual bastonária, Ana Rita Cavaco, recandidata-se ao cargo, encabeçando a lista A, com o lema "Orgulhosamente com os Enfermeiros".
A lista de Ana Rita Cavaco propõe no seu programa a implementação do internato de especialidade em enfermagem (à semelhança do que acontece com os médicos) e a definição de competências acrescidas em novas áreas de enfermagem, como a forense, oncologia ou do desporto. Na lista de propostas surge ainda a criação do museu de enfermagem e de um gabinete de apoio aos enfermeiros.
Em entrevista à TSF, Ana Rita Cavaco diz acreditar que as últimas polémicas em que se viu envolvida não vão afetar a forma como os enfermeiros encaram o trabalho que tem realizado nos últimos anos.
"Eu penso que os enfermeiros sabem que a bastonária foi uma voz incómoda para este ou para qualquer Governo, porque nenhum gosta de ser confrontado. E se não fosse essa voz incómoda que defendesse a dignidade da profissão e dos enfermeiros não teria havido mais contratação, o Governo não teria contratado tantos enfermeiros. Infelizmente ainda não chega, mas teria contratado ainda menos e não teria reintroduzido a categoria do enfermeiro especialista nesta nova carreira, embora a carreira precise ainda de muita coisa", adianta.
A atual bastonária considera que é preciso continuar a pressionar tanto o setor privado como o social e o serviço nacional de saúde para contratar mais enfermeiros.
"Por cada doente a mais que está a cargo de um enfermeiro a taxa de mortalidade sobe 7% e, portanto, é preciso haver mais pressão para contratação de enfermeiros. Depois, no caminho da valorização nós pretendemos criar mais áreas de especialidade, criámos também nove competências acrescidas e temos muitas outras a ser trabalhadas neste momento e já tínhamos proposto, está pré-aprovado, um internato para as áreas de especialidade em enfermagem", sublinha.
Pela lista B, com o lema "Enfermagem - A Causa Maior", surge como candidato a bastonário o enfermeiro Belmiro Pereira Rocha.
Entre as propostas da lista B estão um plano estratégico que determine as necessidades de enfermeiros das diversas categorias ou a promoção do "reconhecimento social dos enfermeiros".
A lista de Belmiro Pereira Rocha propõe-se ainda a criar um fundo de apoio solidário aos membros da Ordem em situação de "comprovada vulnerabilidade".
Entre as propostas está um plano estratégico para determinar as necessidades de enfermeiros das diversas categorias, mas Belmiro Pereira Rocha considera, em entrevista à TSF, que o mais importante é voltar a ganhar crédito de negociação no Governo.
"Nós precisamos de cumprir os desígnios, restabelecer a confiança e a cooperação institucional, no sentido de podermos voltar a negociar, a acreditar e a ter esperança que a enfermagem possa ter um verdadeiro papel e um verdadeiro pilar no nosso sistema de saúde, que volte a haver uma valorização da enfermagem."
Belmiro Pereira Rocha defende que é preciso dar lugar a novos atores na Ordem dos Enfermeiros e adotar novas estratégias de comunicação mais credíveis.
"Sentimos que existe muito ruído e muitos objetivos paralelos relativamente a todas estas atuações e a nossa preocupação maior é os objetivos da enfermagem propriamente ditos, os resultados da enfermagem. Portanto, nós entendemos que a organização Ordem dos Enfermeiros tem de ser isenta de trabalho de qualquer outra espécie que não dos seus próprios desígnios. Não pode ser uma organização de índole sindical", remata.
Disputam ainda as eleições as listas C e E, com candidatos, respetivamente, aos órgãos regionais da Madeira e dos Açores.
Além das quatro listas, uma outra viu-se excluída na candidatura que apresentou aos órgãos nacionais e regionais, anunciando que pretendia impugnar o ato eleitoral.
A lista excluída - "Dignificar a Ordem, Valorizar os Enfermeiros - rejeita os argumentos apresentados pela comissão eleitoral, considerando que se trata de "uma decisão ilegal e atentatória dos direitos dos membros da Lista e altamente lesiva dos interesses dos enfermeiros portugueses".
A lista em causa considera lamentável a rejeição de todas as candidaturas que apresentou (aos órgãos nacionais e regionais -- centro, norte e sul) e diz que revela "de forma gritante a necessidade de mudança dos órgãos sociais da Ordem dos Enfermeiros".
Um dos argumentos da comissão eleitoral tem a ver com desconformidades em relação à lei da paridade entre homens e mulheres.
Entretanto, também a lista B, liderada por Belmiro Rocha, anunciou que apresentou uma ação no Tribunal Administrativo de Lisboa para impugnar as decisões da Comissão Eleitoral, considerando que "violam a lei".