A Bola de “interesse público”. Oitenta anos de história em palavras e imagens
O diretor-geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas revela que está “bem encaminhado” o processo de classificação. A TSF visitou o arquivo de A Bola na companhia de um dos primeiros fotógrafos do jornal
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“Até ‘tou a tremer, pá!” As mãos de Rui Raimundo são o espelho de emoção com que procura, em páginas amareladas com mais de 60 anos, uma vitória portuguesa na Alemanha Oriental. “Até tenho de fazer isto devagarinho, que é para não estragar”, tanto é o que tempo que conserva aquele papel.
O jornal do dia 22 de junho de 1959 contava a “estreia auspiciosa” de Portugal na Taça das Nações Europeias. Uma entre tantas histórias que enchem as páginas de A Bola desde o número 1. Esse saiu para a rua a 29 de janeiro de 1945.
Tem quase 80 anos, mas ainda é possível folheá-lo. Na capa, há uma “bola de saída”, uma espécie de introdução onde se explica como nasceu o jornal. Há também várias notícias, como aquela em que Peyroteo, antiga glória do Sporting, é o protagonista.
Lá atrás, Rui Raimundo já tinha mostrado a primeira reportagem que fez para o jornal onde sempre quis trabalhar. Foi a 6 de março de 1989 e Portugal tinha acabado de ser campeão do mundo de futebol de sub-20, em Riade, na Arábia Saudita.
No regresso, a multidão recebeu os campeões, no aeroporto de Lisboa. E Rui Raimundo estava lá para registar o momento em que Carlos Queiróz mostrou a taça aos adeptos em festa.
Rui Raimundo começou a trabalhar n’A Bola em 1989. Foi o terceiro fotógrafo a chegar ao jornal da Travessa da Queimada, em Lisboa.
Antes dele, só mesmo Nuno Ferrari e o pai, Amândio Ferrari. E foi, precisamente, Ferrari filho que levou Raimundo para o jornal onde haveria de ficar até 2023 e onde haveria de fazer tudo o que há para fazer em fotografia.
Classificação “bem encaminhada”
Mas, no arquivo de A Bola, há mais do que todos os jornais, desde o primeiro. Há fotografias, há quase dois milhões de negativos por catalogar, há autógrafos de Pelé e Maradona, há caricaturas, há cartoons, há coleções de outros jornais e revistas de desporto… e muito mais.
São grandes quantidades de documentos, espalhados por quatro salas, que o jornal quer disponibilizar à comunidade, assegura o diretor-adjunto Alexandre Pereira.
Para isso, está em curso um processo de classificação para que o arquivo possa ser considerado “património de interesse público”.
O processo teve início pela mão do Comité Olímpico de Portugal em abril deste ano e deverá estar concluído um ano depois, em abril de 2025.
Neste momento, está nas mãos da direção-geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB). À TSF, o diretor-geral afirma que os prazos estão a ser cumpridos. Silvestre Lacerda revela que está tudo “bem encaminhado” e que este arquivo tem todas as condições para ser considerado de “interesse público”.
Silvestre Lacerda sublinha que a DGLAB não tem competência para decidir onde vai ficar o arquivo de A Bola, mas revela que já houve contactos, nomeadamente, com a Cidade do Futebol, que terá mostrado interesse em acolher o espólio.
No que a este ponto diz respeito, a TSF contactou a Federação Portuguesa de Futebol, em busca de esclarecimentos, mas não obteve qualquer resposta.
Mudança “rápida”
A falta de espaço tem sido, de resto, um problema para o jornal. Nas atuais instalações, nas Torres de Lisboa, não é possível guardar todo o espólio.
Ainda assim, nas próximas semanas, e com a ajuda de uma empresa especializada em arquivos, os milhares de documentos que ainda estão na Travessa da Queimada, no Bairro Alto, devem mudar de casa, ainda que de forma temporária.
José Manuel Araújo, secretário-geral do Comité Olímpico de Portugal, revela que vão para um depósito em Palmela, mas o dirigente também garante que, apesar de ir para mais longe de Lisboa, toda a documentação continua “completamente acessível”.