
TSF
A realização de uma bienal de arte e gastronomia congregando o norte de Portugal e a vizinha Galiza começa a ganhar forma no horizonte. Os primeiros passos já foram dados em Santiago de Compostela, através de uma iniciativa que teve continuidade, no Porto.
Corpo do artigo
O restaurante Oficina, liderado pelo chef Marco Gomes na tripeira rua Miguel Bombarda, coração do chamado Bairro das Artes, foi o palco ideal para a chef Lucia Freitas evidenciar a identidade galega da cozinha atlântica na criativa elaboração de pratos com sabor a mar.
«Todos os galegos têm muito respeito pelos produtos e pela tradição», justificou Lucia Freitas, adepta confessa de «uma cozinha tradicional, mas renovada», algo que pratica no seu pequeno - apenas cinco mesas - restaurante A Tafona, próximo do Mercado de Abastos, na cidade do Apóstolo.
«Somos terras-irmãs, geográfica e culturalmente, praticando uma cozinha baseada no mar», sublinha Lucia Freitas, que primou logo no primeiro momento, com a ostra gintonic: uma ostra de Cambados, apresentada de modo divertido e senhora de grande frescura, acompanhada com o branco Couto Mixto.
Em seguida, o céviche de vieira, com alhada para conferir um toque mais picante foi acompanhado igualmente com um vinho transfronteiriço de produção artesanal: Sim Palabras, um Albarino de 2010.
A pescada de Celeiro, muito branca com nabo de aipo e citronela assegurou a continuidade dos momentos com sabor marinho.
A harmonia foi conseguida com o Salvaxe, um multivarietal elaborado com as castas gouveio, trajadura, alvarinho e verdelho da região de Gomariz.
A concluir, canelon de vaca galega, um guisado tradicional com molho de manteiga e emulsão de trufa de verão, acompanhado com o tinto Quinta Toucedo, oriundo da Ribeira Sacra.
Para terminar em estado de total felicidade, la vie em rose adoçou o palato: um caramelo rosado, com pimenta rosa e frutos vermelhos, acolitado por um adocicado Alvarinho Cazapitas.
Galeria e fundação são pilares do projeto
«A gastronomia do Norte de Portugal e da Galiza não tem fronteiras», concretiza a chef, proprietária do restaurante onde teve início este curioso intercâmbio entre o Porto e Santiago de Compostela.
Anfitrião portuense, o galerista Fernando Santos, há 25 anos estabelecido em Miguel Bombarda, coloca todo o empenho neste projeto «que nasceu com o objetivo de ligar a arte à gastronomia», como faz questão de sublinhar.
Para Daniel Barro da Fundação DIDAC, ligada à arte contemporânea e ao design, cujos estatutos privilegiam a relação com Portugal, «a gastronomia é uma das peças-chave da nossa identidade e não conhece fronteiras».
Parceiro de Fernando Santos no desenvolvimento deste projeto, o espanhol refere que «cruzar disciplinas é muito importante no mundo de hoje. Tentámos começar, do ponto de vista cultural, criando com naturalidade uma identidade comum, desenvolvendo este projeto com duas regiões muito fortes na gastronomia».
Uma ligação inter-regional que esteve sempre no pensamento de Fernando Santos. «A minha galeria é privada, não é uma fundação, mas este relacionamento com outras artes e com a Galiza é um sonho antigo», confessa o galerista que transformou uma velha e emblemática garagem onde eram reparados automóveis numa moderna Oficina gastronómica. Um palco de experiências para cruzar as artes tendo um denominador comum: a mesa.