Jorge Coelho vê as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa como uma "pré-justificação" da decisão que venha a tomar depois das Legislativas.
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O aviso de Marcelo Rebelo de Sousa quanto a uma possível crise na direita portuguesa durante os próximos anos chegou até ao painel de debate da Circulatura do Quadrado.
Jorge Coelho identifica as palavras do Presidente da República como uma "declaração pré-eleitoral" de recandidatura ao cargo que ocupa. "É para aí a terceira vez que faz uma declaração desta natureza. No fundo, está a construir uma pré-justificação da decisão que vai tomar a seguir às eleições legislativas", argumentou o antigo dirigente socialista.
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E apontou mesmo uma passo extra dado por Marcelo que, segundo Jorge Coelho, disse que "os partidos da direita não estão a cumprir o seu papel de dar equilíbrio ao funcionamento do nosso sistema democrático. Se não estão, alguém tem que estar. Quem é que pode estar? O Presidente da República".
Se tudo isto faz Jorge Coelho apoiar a possível recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa? "Não, antes pelo contrário", garantiu.
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António Lobo Xavier lê as palavras de Marcelo de uma outra forma: "O Presidente da República não precisa de nenhuma justificação para se recandidatar, pelo contrário. Em Portugal, todos os Presidentes da República se recandidatam. Quanto mais popularidade e apoio têm... O que seria preciso justificar é se não se recandidatasse", explicou o antigo deputado centrista.
Na análise do momento político da direita portuguesa, Pacheco Pereira identifica "uma fragmentação política e uma perda de identidade", argumentando que não houve, desde o 25 de abril, um partido "sólido" de direita, com exceção dos cinco anos em que a troika esteve no país, em que o PSD assumiu esse lugar. Durante esse período, o partido serviu "de albergue espanhol para think tanks e para personalidades que há muito tempo não tinham votos. Foram buscar ao PSD e esses votos e agora há um dilema de orfandade. A crise da direita em Portugal é a orfandade do PSD do passado".
A crise da direita em Portugal é a orfandade do PSD do passado
Lobo Xavier identifica um outro problema a curto prazo: "Saber se os partidos à direita do PS se recompõem." Sobre o caso específico do CDS, o antigo líder do grupo parlamentar centrista defende que "é muito mais fácil ao CDS recuperar o seu lugar do que ao PSD".
Para isso, o CDS deve deixar a "campanha identitária agressiva e virada para o passado" e adotar "uma campanha - sem despir a ideologia nem a identidade - mais virada para as coisas realmente importantes e que as pessoas sentem".
Jorge Coelho defende que a crise na direita é "evidente" e que a mesma é ilustrada pela derrota do PSD, que teve o "pior resultado da história da democracia e da sua própria história".
Quanto ao CDS, embora considere que a dimensão do problema do partido não é a mesma que a que o PSD enfrenta, não agoira nada de bom para as aspirações que a líder Assunção Cristas anunciou.
"A tudo aquilo que era dito, que 'a direita somos nós, quem quiser apostar forte na direita apoie-nos', o eleitorado deu a resposta que tinha a dar", lembra Jorge Coelho, reconhecendo que o CDS demonstra agora "entusiasmo" para as Legislativas.
De volta a Pacheco Pereira, o antigo vice-presidente do Parlamento Europeu identifica um problema transversal aos partidos, que é o de não existir "uma verdadeira cultura contra a corrupção" no seu interior, "particularmente em relação aos partidos do poder".
Temos de criar uma cultura anticorrupção de todo o sistema político.
Os casos de Armando Vara e Duarte Lima foram relembrados pelo social-democrata, recordando que "só quando entram na cadeia é que alguém se lembra que não podem continuar a ser membros do partido", quando o seu envolvimento em casos de corrupção já era conhecido há "muito" tempo.
"Não se pode partir do princípio que um partido só deva sancionar, impedir o progresso na carreira ou não dar lugares fundamentais" depois de as pessoas serem julgadas nos tribunais. "Temos de criar uma cultura anticorrupção de todo o sistema político e quando tivermos uma geração de dirigentes políticos com essa cultura", pessoas como Vara e Duarte Lima não podem fazer carreira. Para algumas pessoas, "a melhor maneira de acederem à possibilidade de serem corruptos é através da carreira partidária", alertou.