Críticos apontam falhas na representatividade do órgão máximo entre congressos, mas não atiram já a toalha ao chão em relação à reunião deste sábado. Chumbar a moção de confiança na direção de Rodrigues dos Santos é tarefa quase impossível, mas ainda há quem veja margem para a convocação de um congresso.
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Com o partido em declínio acentuado e a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos muito fragilizada, o CDS reúne, este sábado, o Conselho Nacional do partido para discutir e votar a moção de confiança que o presidente centrista quer sujeitar ao voto dos conselheiros. Apesar de reunir por meios digitais, este promete ser um Conselho Nacional muito quente e em que se identificam, desde logo, duas polémicas.
Ser ou não ser por voto secreto e incluir ou não a convocação de um congresso na ordem de trabalhos são duas das questões que separam a atual direção do CDS, agora mais reduzida, e os críticos de Francisco Rodrigues dos Santos. A última palavra cabe ao presidente da mesa, Filipe Anacoreta Correia, que, sobre a forma de votação, promete ouvir os conselheiros.
"Já tomei uma decisão sobre essa matéria, mas entendo que devo transmiti-la em primeiro lugar aos conselheiros nacionais", explica o presidente da mesa, salientando que admite ser "sensível à posição assumida pelos conselheiros".
Com os críticos a pedir voto secreto e a direção centrista confiante no voto nominal, a tecnologia, garante Anacoreta Correia, não será problema. "Não será por problemas tecnológicos que uma ou outra opção não serão possíveis", refere.
Já no que toca à inclusão de um congresso extraordinário eletivo na ordem de trabalhos, o presidente da mesa do conselho nacional considera que não faz sentido.
"A iniciativa de alguns conselheiros nacionais de quererem antecipar o calendário eleitoral previsto nos estatutos do partido - que são dois anos - pressupõe o recurso à moção de censura", afirma, acrescentando que pediu a esse grupo que "esclarecesse se queria que uma moção de censura fosse votada", mas ainda "aguarda resposta". O cenário é posto de parte pelos críticos que defendem também que as dezenas de elementos da atual direção não devem votar uma moção em causa própria.
Sobre isso, Filipe Anacoreta Correia não tem dúvidas: "os estatutos definem se uma forma taxativa quem são os membros do Conselho Nacional e por isso participam nas respetivas decisões", refere, afastando a possibilidade de os membros afetos à direção não poderem votar.
Para ser aprovada, a moção de confiança na atual direção centrista precisa de uma maioria simples de votos, mas se a aprovação não for expressiva há quem antecipe "um período terrível na vida do CDS". Até porque, lembram vários críticos ouvidos pela TSF, com um número muito elevado de inerências e sem a maioria dos distritos representada, o Conselho Nacional está longe de ser reflexo de todas as sensibilidades do partido. Além dos distritos dos Açores e Madeira, por causa da pandemia, Braga, Bragança, Beja, Castelo Branco, Faro, Guarda, Portalegre, Santarém e Viana do Castelo não puderam eleger os respetivos representantes no órgão máximo entre congressos.
E, mesmo entre os conselheiros críticos do rumo assumido por Francisco Rodrigues dos Santos, há quem deposite confiança no tiro de partida dado pelo antigo vice-presidente do partido, Adolfo Mesquita Nunes - que já se mostrou disponível para ser candidato à liderança - e quem, apontando a enorme crise no CDS, prefira não alinhar com um regresso às políticas da anterior direção da qual o também antigo secretário de Estado do Turismo fez parte.
Entre os que acreditam que o partido tem de mudar, Filipe Lobo d'Ávila, vice-presidente do partido até à semana passada, defendeu internamente a realização de um congresso e, após a demissão, manteve-se propositadamente em silêncio por considerar que "o ambiente no CDS é de enorme crispação". Do grupo "Juntos pelo Futuro", que liderou, entre os que se demitiram e os que ficaram na direção de Rodrigues dos Santos, há quem apoie Mesquita Nunes, quem queira mudar liderança mas sem os elementos ligados ao tempo de Assunção Cristas e quem apoie o atual líder.
A TSF sabe que personalidades e antigos dirigentes centristas como Assunção Cristas, Nuno Magalhães, António Pires de Lima e António Lobo Xavier temem pelo futuro do partido e defendem a realização de um congresso extraordinário para que o "definhamento" no Largo do Caldas ainda seja reversível.