Um ano depois da morte do leão Cecil, procura-se uma nova forma de financiar os projetos de conservação da natureza. É que esses projetos são pagos pelos safaris de caça, o que é uma contradição.
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A morte de Cecil, no ano passado, chocou o mundo, mas o leão deixou para trás 13 filhos e 15 netos que também é preciso proteger. O jornal britânico The Guardian revela que nos últimos 100 anos desapareceram 90% dos leões que existiam no mundo.
A morte de Cecil, às mãos de um dentista norte-americano, originou uma onda de solidariedade. A unidade de investigação da vida selvagem da universidade de Harvard recebeu donativos de mais de um milhão de dólares e pretende mudar a forma como é financiada a conservação da natureza em África.
É que, ironicamente, é a caça aos leões que permite a existência de reservas como aquela Cecil vivia. Nos anos 90 era possível caçar 60 leões por ano, mas o trabalho desenvolvido pela unidade em Harvard com a reserva natural no Zimbabué permitiu uma moratória. Entre 2004 e 2008 foi proibido caçar e neste momento só é permitida a morte de seis leões.
O diretor da unidade, David MacDonald, explicou ao The Guardian que a redução na caça permitiu aumentar em 50% o número de leões que vivem na reserva. Fora dela, no entanto, o negócio continua em expansão com 1.500 mortes por ano em todo o continente.
Andrew Loveridge, que lidera a programa de predadores na unidade de Harvard, diz que se a caça for totalmente proibida deixará de haver reservas naturais e os terrenos serão usados para agricultura. O investigador adianta que é preciso entender a perspetiva de África, um continente com governos pobres e onde os leões não são muito apreciados porque matam o gado e até crianças.
É preciso justificar à população a importância de proteger os leões e os donativos recebidos depois da morte de Cecil estão a ser usados para isso. David MacDonald diz que o dinheiro está a ajudar a proteger a população e o gado que a sustenta para evitar que seja a caça a ter esse papel.