No bairro mais multicultural de Lisboa, a ideia de marchantes de outras nacionalidades não passa disso mesmo - uma ideia. A TSF foi perceber como é vivido o Santo António no bairro da Mouraria.
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Na Mouraria a festa começou no primeiro dia de junho. Por todo o lado há fitas e balões. Montam-se os retiros que vão alimentar os foliões, afinam-se os grelhadores, testa-se a música. Há ensaios da marcha e já se discute a competição deste ano. É impossível ignorar que vem aí o Santo António.
No bairro mais multicultural de Lisboa, onde mais de 30% da população é imigrante, as diferentes comunidades já se habituaram. Passeiam pelo bairro e até comem uma sardinha. Mas a ideia de marchar pela Mouraria na noite de 12 de junho ainda está bem distante.
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Carla Correia foi marchante durante 23 anos. Nos últimos sete assumiu a coordenação da marcha, fala de uma emoção que não se explica. É preciso gostar muito e ter um grande amor ao bairro. "A marcha é como o fado", defende, "não se aprende. Se não houver lá uma quedazinha...".
Também Cristina explica que é um amor que nasce com quem é do bairro; está entranhado e vai passando de geração em geração. Tal como os pais, também ela marchou pela Mouraria. E depois dela, a filha.
Noutros tempos era uma tradição de família. Hoje é mais difícil. Os alojamentos para turistas deixaram sem casa quem sempre foi da Mouraria. O que sobrou é demasiado caro. Hoje os marchantes organizam-se em carros para vir dos arredores de Lisboa para os ensaios.
Carla e Cristina acreditam que talvez daqui a uns anos alguns dos imigrantes que moram no bairro podem vir a envolver-se mais na festa. Os mais novos poderão até vir a desfilar na Avenida. Mas essa não é uma hipótese para já. "São culturas muito diferentes das nossas. Vivem num mundo só deles".
Afonso Cabral, que vai estar aos comandos do retiro do Grupo Desportivo da Mouraria, até gostava de ver - uma família única e completa, onde todos convivam e festejem o Santo António.
Para já, ainda é cedo. Afonso lamenta que por estes dias os imigrantes que vivem no bairro se sintam um pouco isolados. E por isso, já tem planos para a loja do lado. "Temos aqui um rapaz que é do Bangladesh. Ele não sabe, mas vou-lhe pôr um bocadinho de festão. Uma brincadeirinha. Para lhe dar uma alegria", conta.