Passaram 20 anos, mas basta ouvir os primeiros segundos de "Pangea" para embarcar numa viagem no tempo. O músico e compositor Nuno Rebelo conta à TSF como foi criar o hino da Expo 98, que continua bem presente na memória de todos.
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A história começa anos antes da exposição que trouxe o mundo a Lisboa, quando a agência de Publicidade Euro RSCG preparava a candidatura para as campanhas publicitárias. Nuno Rebelo foi convidado a criar um hino para a Expo 98.
Na altura, o músico e compositor determinou os componentes essenciais para construir esse hino. "Sendo um acontecimento global, três ingredientes viriam ao caldeirão. Um, os povos de todo o mundo; outro que seria o tema da Expo 98, os Oceanos; e outro, a grandiosidade do evento, portanto, um lado épico e achei que uma orquestra sinfónica concluiria esse lado".
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E começou o trabalho. Nuno Rebelo pensou toda a estrutura. "O hino começa e acaba com uns acordes de sopros da Orquestra Sinfónica. Funciona como a porta de entrada e de saída. E quando se entra, quem se encontra primeiro é a guitarra portuguesa. Entramos em Lisboa pela sonoridade da guitarra portuguesa". Uma espécie de "anfitriã", lembra, tocada por Pedro Caldeira Cabral.
As gravações começaram em 1996. Nuno lembra-se de estar em estúdio na passagem de ano de 96 para 97, a tratar o hino.
Nem tudo correu como planeado. "Por exemplo, na altura da gravação, feita num convento em Caxias. Tinha muitas partes escritas para percussão, mas dentro do convento ressoava de tal maneira que foi impossível gravar".
Um contratempo que acabou por correr bem. Mais tarde, em estúdio, na gravação dos músicos tradicionais dos vários sítios do mundo aproveitou-se para registar a percussão.
Tudo pronto, era tempo apresentar o trabalho à comitiva da Expo e conhecer o veredicto. "Nós estávamos na última fila de um pequeno auditório, com toda a comitiva à frente. O hino foi apresentado, a música acabou e ficaram uns segundos eternos de silêncio em que eu sofri porque pensava: 'não gostaram nada, não gostaram nada'. E de repente, o Mega Ferreira levanta-se e aplaude e diz: 'genial'! E foi uma sensação de alívio e de felicidade imensa", conta Nuno.
Missão cumprida, faltava só o nome. O hino foi batizado de "Pangea". "É o continente geológico inicial, que havia antes dos continentes se terem separado e de algum modo foi também uma homenagem privada ao meu pai, que é geólogo".
A 22 de maio de 1998, a Expo 98 abria as portas. E o hino fez ainda mais sentido para o compositor.
"Vivi a Expo com uma grande emoção. Senti-me parte de tudo aquilo", conta Nuno, que acompanhou todo o processo da exposição desde a construção.
A música, que sonorizava os famosos anúncios com os bebés debaixo de água, era tocada por todo o recinto, em diferentes ocasiões. O músico recorda particularmente o encerramento, com o fogo-de-artifício final, a 30 de setembro. "Foi realmente emocionante. Quase que me levou às lágrimas".
"Pangea" e a Expo 98 acabaram por mudar a vida do compositor. "A minha vida foi de certa maneira abençoada por ter feito essa música".
"Sinto-me completamente realizado com aquilo que fiz; não lhe mudaria uma nota", garante Nuno Rebelo, que não deixa de se espantar. "Às vezes penso que se tivesse começado a compor aquela música um dia antes, teria sido outra música. É muito curioso pensar que uma coisa que está e que fica podia mudar assim...".
E o hino da Exposição Mundial abriu-lhe outras portas? Trouxe-lhe trabalhos diferentes? Nem por isso. "Também, depois daquilo o que é que podia ser? Só se fosse o hino dos Jogos Olímpicos", diz a rir.