A mulher de Manuel não se lembra quando casaram. Ele cuida que ela não esqueça
Manuel Bandeira, 73 anos, cuida da mulher Angélica há cerca de três anos mas não vê a função de cuidador informal como um fardo. Admite, no entanto, que o apoio das equipas da Misericórdia é essencial.
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Manuel Bandeira tem 73 anos, vive em Lisboa e é cuidador informal da mulher, que sofre de demência há cerca de três anos. Antes disso, Angélica Bandeira, 78 anos, enfrentou uma depressão grave durante vários anos, que confundiu sintomas e diagnósticos.
"Depois de ter passado por vários especialistas, alguém mandou fazer exames e chegaram à conclusão que seria outra coisa e mandaram-me para um neurologista. O neurologista depois de exames chegou à conclusão que era uma demência", explica Manuel Bandeira.
Com a doença, vieram algumas dificuldades. Angélica foi deixando de falar, de reagir, passa muito tempo sentada ou deitada e não pode ficar sozinha.
"Se eu lhe perguntar: 'lembras-te quando é que a gente casou?' Ela não se lembra. Aliás, não diz nada. Não sei se ela se lembra ou se não se lembra. Tudo o que lhe pergunto, não estou à espera da resposta. É adivinhação", conta o marido.
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Manuel teve de tomar as rédeas da rotina da casa e dos cuidados à mulher. Confessa que não foi fácil habituar-se a tarefas que, normalmente, estavam ao cuidado de Angélica.
"Ao princípio, fazia a comida em casa. Fazia a cama, lavava roupa, pendurava roupa, tirava roupa, secava roupa e cheguei a uma altura em que comecei a ver que não tinha capacidade para aguentar estes trabalhos todos. E comecei a andar stressado", explica.
Manuel teve de pedir ajuda à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) para receber apoio das equipas domiciliárias que prestam cuidados de higiene. Define o serviço como "importantíssimo" porque antes de conseguir o apoio, teve de bater a muitas portas. "Tive de fazer tripas coração, telefone para aqui, telefone para ali, onde é que há, quem é que faz, como é que é". Manuel fez também formação para cuidadores informais através da SCML.
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A pandemia não trouxe grandes novidades. Habituado a estar em casa, Manuel conseguiu ultrapassar a quarentena até porque, garante, cuidar da mulher não é um fardo.
"Já ouvi dizer que as pessoas que tratam destas pessoas assim sofrem muito, choram muito porque têm pena. Eu não vejo a Angélica assim. Eu vejo a Angélica como vi sempre, só que agora não anda. Era bom que ela não estivesse assim mas, o facto de ela estar assim, não vai fazer com que eu me ponha encostado a um canto e me deixe ir pelo cano abaixo. Eu tenho é que ter forças para sempre estar ao pé dela e estar disponível para a ajudar sempre que ela precisar", defende.