"A Noiva": Sérgio Tréfaut e Joana Bernardo numa ficção rente à realidade jihadista
Podemos saber o que vai na cabeça de uma jovem dividida entre dois mundos? Será que está arrependida, ou que tenta apenas salvar a pele? O filme não dá, nem procura explicações "porque a vida não é assim tão simplista". Sérgio Tréfaut filma por entre o mistério e o desconforto de uma escolha radical. Dois anos depois de se juntar ao Daesh, a jovem Bárbara - Um Mohamed - tem dois filhos, está grávida de um terceiro, assiste ao fuzilamento do segundo marido e é uma prisioneira à espera de julgamento. "A Noiva" estreia esta quinta-feira nas salas de cinema.
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A realidade nunca é a preto e branco. As duas cores vagueiam pelas sombras do novo filme de Sérgio Tréfaut, mas o que lá vai dentro, o que salta do ecrã para o público, é a luz duma personagem que através de um olhar contido nos guia pelo universo de uma jovem europeia, que se desencantou pelo seu mundo, e escolheu partir e juntar-se ao Daesh.
"O que me interessa são filmes de reflexão", ponto de partida para o guião que surgiu a meio de uma outra ideia de filme e que levou o realizador até ao Curdistão iraquiano: "Esta jovem fugiu aos 17 de casa para se casar com um herói, que ela considera um herói. Há algo de deceção com o seu mundo, e dois ou três anos depois ela já viu tudo. A morte, a destruição, tem dois filhos, carrega um terceiro na barriga".
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Joana Bernardo "uma interpretação genial", defende Tréfaut, veste a pele desta jovem mulher "que quer salvar a pele", após o fuzilamento do segundo marido e prestes a enfrentar o próprio julgamento: "Sabemos que ela quer salvar a pele, mas o filme não oferece respostas, não diz a chave para isto é esta. Há associações de pais que continuam sem saber explicar as motivações dos filhos que fizeram esta escolha. A vida tem mistérios, há coisas que nós não compreendemos e depois de as vermos continuamos sem as compreender facilmente. Não há uma explicação simplista que feche tudo numa caixa".
Ao realizador interessava "o mistério da personagem", e Joana Bernardo, uma das 150 actrizes que responderam ao casting, é essa figura, "A Noiva", papel de estreia no cinema, mesmo sem saber falar francês ou árabe, que aprendeu, tal como os costumes e o peso do niqab: "Um universo distante e estranho para mim, foi todo um caminho que se foi construindo. Fui aprendendo e observando. Foi duro, mas estou muito grata à equipa e a todos os que me ajudaram e acolheram."
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O elenco de "A Noiva" inclui ainda espanhola Lola Dueñas ("Volver") e o português Hugo Bentes ("Raiva"), além de Hussein Hassan Ali e Saman Mustefa. A equipa artística conta com o diretor de fotografia João Ribeiro ("O ano da morte de Ricardo Reis"); Rowal Gelal, assina a trilha sonora, e Pedro Filipe Marques ("As mil e uma noites - Volumes 1, 2 e 3"), assina a montagem. "A Noiva" foi rodado no Iraque, em 2020, durante a pandemia de Covid-19.
A autora não segue as regras do novo acordo ortográfico