A pancada do punk. Da paralisia cerebral ao sonho concretizado de gravar um disco
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Há 28 anos que os 5ª Punkada usam a música para mudar mentalidades e combater estereótipos sociais. Todos os músicos têm paralisia cerebral e são utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. A banda lançou o seu primeiro CD no final do ano passado e está agora em tournée um pouco por todo o país.
A gravação do disco contou com a participação de conhecidos músicos portugueses que elogiam o profissionalismo e a dedicação destes músicos especiais.
É quando sobem ao palco que se dá a transformação. A vários níveis, quer dos músicos que compõem a banda, quer das mentalidades que se mudam através da música. A ideia chega-nos através de Paulo Jacob, o coordenador artístico dos 5ª Punkada. "Cognitivamente têm muitas capacidades, algumas delas até acima da média. Somos todos diferentes, mas não somos todos iguais. Há pessoas que têm mais potencial e capacidade numa determinada área e as coisas vivem dessa diferença", explica.
As portas da sala dos ensaios estão abertas para rua e deixam antever o alinhamento da banda no palco: à entrada, à direita Fátima Pinho nas teclas, logo a seguir mais de lado o baterista Miguel. Fausto Sousa está no lugar central e é de lá que dá voz a olhar de frente para o guitarrista Jorge Malheiro. Paulo Jacob como que maestro está mais ao fundo a comandar os ensaios, até porque os objetivos, quer musicais, quer sociais, estão bem definidos. "Foi uma química fantástica entre todos os músicos, com muitos sorrisos e muita gargalhada. Foi basicamente o que se passou".
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Surma trouxe ao primeiro CD dos 5ª Punkada algumas vozes e a presença do baixo, o que, para a artista foi "coisa pouca", ao contrário do muito que leva da experiência, que diz ter vivido com "almas únicas" que, ao palco, trazem magia.
A paralisia cerebral que nada tem a ver com deficiência mental, muito pelo contrário. Apesar das limitações físicas provocadas pela doença, estas pessoas conseguem concretizar atividades e sonhos como o de ter uma banda musical de punk. Por isso entrámos nos ensaios para o disco de estreia "Somos Punk ou não?"
Os ensaios dos 5ª Punkada decorrem numa sala da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Os músicos que compõem a banda fazem parte desta associação e, por isso, com vários graus de paralisia cerebral. Esta condição física não os impede de serem uns "animais de palco", como carinhosamente lhes chama o coordenador artístico. São quatro elementos especiais, que estão ligados por uma paixão em comum: todos são apaixonados pela música.
Na reportagem ouvimos os testemunhos de Jorge Malheiro, que está na banda há 4 anos. Para ele, a música é um sonho, tal como era gravar um CD, este já concretizado no final do ano passado. Um sonho que se estendeu por uma tournée nacional por que Coimbra, Aveiro, Braga, Beja e Tondela.
Ao lado de Jorge Malheira está Fausto Sousa. Olha-nos fixo, atento ao que está a dizer Jorge Malheiro. Fausto é o vocalista e faz um esforço enorme por falar connosco, devido aos movimentos involuntários que o caracterizam. É um fã de John Bon Jovi e apaixonou-se pela música ainda nos anos 80. "É o cumprir de um sonho", diz.
Os movimentos involuntários são inevitáveis e visíveis em palco ou nos ensaios. A paralisia cerebral desperta a curiosidade de muitos ouvintes da banda.
Os 5ª Punkada vivem dessa diferença, mas em tudo são iguais a uma banda musical comum: fazem ensaios regulares, agora até já lançaram um disco, e volta e meia lá vão saltando de palco em palco.
A gravação do CD contou com uma semana de produção intensa, que resultou num "trabalho especial" para o produtor Rui Gaspar, mas também num "turbilhão de emoções", que é exatamente o mesmo que se passa dentro do coração de Fátima Pinho, o único elemento feminino da banda, nos 5ª Punkada desde 2008. A música mexe com Fátima Pinho, ela que confessa que gostava de conhecer Anselmo Ralph.
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Vivem um sonho todos os que compõem os 5ª Punkada, mas também Vítor Torpedo, outro dos músicos convidados para se juntar à concretização. Para o músico, esta está a ser uma experiência de "dar e receber", mas há um prato da balança que pesa sempre mais: o lado do receber.
O lançamento do álbum "Somos Punk ou não?" aconteceu em Leiria, em finais de dezembro, e faz uma retrospetiva pelos temas que foram reportório da banda ao longo de 28 anos. Oito temas que vão desde os primórdios dos 5ª Punkada até aos dias de hoje e é este alinhamento que está agora em tournée.
As portas da sala estão abertas para rua. Portadas grandes, em jeito de garagem, que deixam em perspetiva o alinhamento da banda nos ensaios: à entrada, à direita Fátima nas teclas, logo a seguir mais de lado o baterista Miguel. Fausto está no lugar central e é de lá que dá voz a olhar de frente para o guitarrista Jorge.
