"A PIDE vinha-se pôr à porta." A Voz do Operário é membro honorário da Ordem da Liberdade
A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário, que conta 136 anos, foi condecorada pelo Presidente da República como membro honorário da Ordem da Liberdade.
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A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário, que celebra este ano 136 anos de existência, foi condecorada pelo Presidente da República como membro honorário da Ordem da Liberdade.
A sociedade foi fundada no século XIX por um grupo de operários manipuladores de tabaco mas a história começa com a criação de um jornal, que remonta a 1879. A educação foi sempre um dos valores que a Voz do Operário entendeu ser a única maneira para transformar uma sociedade.
"O número de analfabetos que existam era muito grande e uma coisa que os operários constataram é que o jornal saía e havia alguém que sabia ler e lia-lhes o jornal, onde eles vêm a dizer uma frase interessantíssima: "temos de arranjar escolas para os nossos filhos para que possam realmente um melhor futuro assegurado. E é assim que nascem as escolas da Voz do Operário", conta Vítor Agostinho, Diretor Geral há 35 anos.
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Esta sociedade chegou a ser o principal parceiro do Estado a nível escolar, formando mais de cinco mil alunos. Mas ao desfolhar a história da Voz do Operário, Vítor Agostinho recorda que a instituição foi também refúgio para "milhares de pessoas que participaram nas lutas políticas, principalmente durante a ditadura salazarista".
"Vivia-se no fascismo. Passar um papel de uma pessoa para outra era perigosíssimo por causa da PIDE. E aqui sim, chegaram-se a fazer muitas atividades sindicais antes do 25 de abril. Fizeram-se aqui culturais, nomeadamente espetáculos em que a PIDE vinha-se pôr à porta", relembra.
E num mês em que se comemora a Liberdade, o 25 de abril é uma matéria lecionada nas salas de aula na Voz do Operário. "25 de abril foi em 1974 porque antes tínhamos uma ditadura. A Liberdade é fazermos quase o que quisermos e não temos de fazer o que os outros dizem", conta o André, de apenas 6 anos, que já tem uma flor favorita: o cravo.