A procura pela novidade e uma "sensação de grande poder": o que leva os mais ricos a arriscar tanto?
A riqueza acumulada dos cinco tripulantes é de pouco mais de 2,6 mil milhões de euros.
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A viagem subaquática para ir ver o Titanic a bordo do submersível Titan, da OceanGate, custava perto de 250 mil dólares (230 mil euros) e era uma experiência turística que a psicóloga Filipa Jardim da Silva descreve na TSF como um "brinquedo novo" para alguém que "já comprou tudo o que há para comprar".
Desafiada a tentar explicar quem é que este tipo de viagens atrai, a psicóloga clínica começa por aponta que a "maior abertura à novidade e também uma maior tolerância ao risco", por parte dos mais ricos, são fenómenos estudados.
"O que se tem visto é que muitas pessoas com muito poder financeiro estão muitas vezes disponíveis a sacrificar o seu tempo e, lá está, o dinheiro que têm em bastante abundância, por algo que podem considerar que é, no fundo, um feito, e que vai acrescentar algo, seja às suas vidas, seja a própria Humanidade", explica. Daí, nasce uma "vontade de se transcenderem" que, aliada à "motivação pela novidade" e a uma menor preocupação com o que pode ser perigoso, ajuda a "compreender alguns comportamentos como estes".
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A bordo do Titan seguiam, além do norte-americano Stockton Rush, proprietário da OceanGate, o magnata britânico, Hamish Harding (58 anos), o especialista francês na tragédia do "Titanic", Paul-Henri Nargeolet (77 anos) - apelidado de "Senhor Titanic" - o empresário de origem paquistanesa Shahzada Dawood (48 anos) e o seu filho Suleman (19 anos), ambos com nacionalidade britânica.
Questionada sobre se uma falsa sensação de imortalidade pode estar também na origem de aventuras de risco como esta, Filipa Jardim da Silva assinala que, mais do que de imortalidade, a sensação é de "grande poder" perante o mundo e leva a avaliações de risco muito próprias, assentes numa "grande confiança em si mesmos e nos seus recursos, de que conseguem superar-se mais e mais".
A estas avaliações junta-se a procura por "brinquedos novos para se divertir" por parte de alguém que, "no fundo, já comprou tudo".
"Quando alguém já chegou à Lua, vai pensar como chegar a Marte", exemplifica a psicóloga, que nota que, neste nível de riqueza, há quem "financeiramente" consiga "escalar o mundo no sentido de aceder a muitas experiências".
E porque o poder financeiro "é um fator que efetivamente influencia e nos abre muitas oportunidades", mais cedo ou mais tarde acaba por surgir "esta necessidade de novidade, de expansão, de superação, para além daquilo que já foi totalmente conquistado".
É daqui que nasce "aquilo que, para muitas pessoas, pode ser considerado uma extravagância ou até uma loucura, uma audácia maior, uma procura por adrenalina que muitas vezes vem exatamente de uma vida que financeiramente pode ser muito confortável", sem esquecer os inevitáveis "desconforto e fragilidade" humanos.
A Guarda Costeira dos Estados Unidos confirmou esta quinta-feira que os escombros encontrados na área dos destroços do Titanic correspondem à parte externa do submersível com cinco ocupantes desaparecido no domingo, que terá sofrido uma "implosão catastrófica" sem deixar sobreviventes.