"A professora diz que já melhorei um bocadinho." Como o golfe ajuda a combater o insucesso escolar
O projeto chama-se Golfe - Estratégias de Promoção de Sucessos. Todas as semanas, um grupo de alunos do Agrupamento de Escolas de Vilela, com fraco desempenho escolar, vão até ao Campo do Aqueduto, aprender a jogar golfe. O objetivo é estimular o sucesso educativo através desta modalidade.
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O ritual começou este ano letivo. Uma vez por semana, o Campo de Golfe do Aqueduto, em Paredes, é a sala de aula, durante 45 minutos. Ao ar livre, em grupo e em ambiente de competição, alguns alunos do Agrupamento de Escolas de Vilela procuram obter no golfe, algumas capacidades em falta. Arménio Santos, diretor do clube, refere que as regras do campo são transponíveis para a escola. "Para terem sucesso têm de ter rotinas, concentração e pensar antes de agira. Aqui treinam isso tudo".
Albino Pereira é diretor do agrupamento escolar destes alunos. Também ele sublinha a importância de combater o insucesso escolar e assim evitar retenções.
"Precisamos de saber o que está na origem desse insucesso. Temos de trabalhar a assertividade, a resiliência, a capacidade de concentração e de foco. Tudo isto pode ser ajudado com o desporto".
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O projeto "Golfe - Estratégias de Promoção de Sucessos" tem o apoio do Instituto Português do Desporto e da Juventude. Para os alunos deste agrupamento de escolas de Paredes foi uma novidade recebida com pouco entusiasmo como recorda Arménio Santos. "Todos diziam, no primeiro dia, que isto era uma seca. Ainda há alguma resistência em dizer que gostam. Dizer não é a resposta que estes alunos têm sempre pronta."
Arménio Santos divide o tempo entre a tática para o jogo e a tática para a mente. "Nós acreditamos em vocês, mas vocês também têm de acreditar. Vamos lá... Quero ouvir a relva crescer!"
O entusiasmo não é partilhado, no mesmo tom, pelos alunos. Bruna frequenta o sexto ano. Gosta de patinagem e basquetebol, por isso encara o golfe como uma obrigação que a vai conquistando."Pensava que era uma seca. Agora às vezes gosto, outras não". Também com poucas palavras, a colega de turma, Inês, adepta do futebol, vê no golfe pouca atratividade.
Em Paredes, o abandono escolar é residual, mas o insucesso ainda é significativo. O vereador do pelouro da Educação na Câmara Municipal de Paredes, Paulo Silva, realça a mudança nas últimas décadas: "Nos anos 80, o concelho era um ponto negro no país. Agora, o cenário é diferente, mas ainda há muito insucesso."
A falta de referências em casa leva muitos alunos a questionarem o valor da educação escolar, como sublinha Arménio Santos. O professor de golfe nota que "estes miúdos, apesar de terem idades entre os 11 e 12 anos, são muito resignados. No entanto, eles podem valorizar-se".
Tiago não se encaixa neste perfil. O aluno de doze anos quer, pelo menos, terminar o ensino obrigatório. No golfe encontra ferramentas que o ajudam a alcançar o objetivo de concluir o 12º ano: "Isto aqui ajuda a distrair da escola e ajuda na concentração. No ano passado tirei cinco negativas no primeiro período e este ano foram duas."
Salomé, de estatura baixa e sorridente, nota diferenças na sala de aula: "O golfe ajuda-me a concentrar nas aulas. A diretora de turma diz que estou diferente... que estou melhor."
Manuel Gama, psicólogo do agrupamento escolar de Vilela, também destaca as mais-valias das aulas de golfe. Os alunos aprendem a planear, organizar e, também muito importante, adquirem autoestima.
"À medida que o tempo avança, eles sentem que conseguem. Isto dá-lhes autoestima."
O projeto envolve cerca de duas dezenas de alunos, que no ano letivo passado tiveram cinco ou mais negativas. Da parte dos pais nunca houve obstáculos e Manuel Gama considera que é importante para as crianças: "Estas crianças não existem sozinhas. Há um contexto familiar que é preciso envolver. Nem sempre é fácil, mas assim torna-se mais viável o sucesso deste projeto."
Apesar de recentes, as aulas de golfe estão já provocar mudanças, que são constatadas por toda a comunidade escolar, como nota Albino Pereira: "Há encarregados de educação que me dizem que nunca ninguém tratou os filhos assim."
E no campo? Aos poucos, Arménio Santos vê "alunos cada vez mais comprometidos com as regras do golfe. Eu digo-lhes que podem ser muito bons no que quiserem".
A aula terminou num ápice. Os alunos regressam à carrinha na brincadeira. Os professores - do campo de golfe e da escola - esperam que o entusiasmo se traduza em algo mais.