"Abandona o rigor." Sociedade Portuguesa de Matemática condena alterações ao programa
A vice-presidente da SPM considera que a proposta deixa o currículo "muito mais frágil relativamente a programas anteriores".
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Termina esta terça-feira o prazo para o grupo de trabalho criado pelo Governo para a alteração do programa da matemática, para analisar as propostas enviadas durante a consulta pública, um processo que terminou a 15 de setembro.
Até ao final do ano, o Governo tem de homologar a versão final do documento, que está já a merecer críticas da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM).
Isabel Hormigo, professora do Agrupamento de Escolas Dona Filipa de Lencastre, em Lisboa, e vice-presidente da SPM, afirma que esta alteração "abandona o rigor" da matemática.
"Uma revolução destas depois da pandemia vai ser catastrófica", condena, em declarações à TSF. "Os alunos precisam é que os professores se foquem todos nas dificuldades que eles estão a ter e talvez tivesse sido melhor formar um grupo de trabalho para estudar o que é que se podia fazer pelos jovens e pela aprendizagem da matemática."
No parecer da SPM, o novo programa apresenta várias falhas de natureza científica e pedagógica, com abordagens "pouco rigorosas" no panorama geral.
"Isto quer dizer que eu não posso passar para um determinado patamar sem percorrer todos os degraus para chegar lá (...) Se retiro alguns degraus a aprendizagem vai ficar frágil. Os jovens não vão entender como é que se chega a um determinado patamar e quais são as conclusões que estão a ser apresentadas".
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A professora sublinha ainda o novo programa da matemática, deixa o currículo "muito mais frágil relativamente a programas anteriores".
"É difícil entender as alterações que são feitas", lamenta. Com este programa, "a aprendizagem não é devidamente estruturada nem sequencializada, o que é fundamental no ensino da matemática".
Isabel Hormigo, que coordenou a Revisão da Estrutura Curricular, a definição dos Indicadores de Eficiência Educativa e Gestão de Recursos, a elaboração dos Programas e Metas Curriculares entre 2011 e 2015, não tem dúvidas, este novo programa é um revés no ensino da matemática.
"Nós estávamos a fazer progressos e o que vai acontecer quase de certeza, ou o que a experiência nos diz, é que isto vai ser um passo atrás, por isso tínhamos feito progressos tendo por base o que no mundo melhor se faz e volta-se atrás, estamos a voltar atrás."
A TSF contactou o ministério da educação para obter mais esclarecimentos sobre as alterações no programa de matemática, mas, até ao momento, não obteve qualquer resposta.