"Acabamos por ser picados pelo bichinho da hotelaria. "Alunos com formação fazem a diferença no turismo
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Quando chega ao hotel de 5 estrelas onde estagia em Vilamoura, Samuel Martins dirige-se ao bar da piscina e já sabe qual o trabalho do dia: "Ir buscar gelo, preparar as frutas, preparar as bebidas e ajudar os meus colegas". O jovem, de 19 anos, está a frequentar o curso de Gestão de Restauração e Bebidas, na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve (EHTA).
Catarina Luz, também com 19 anos, frequenta na mesma escola o curso de Gestão de Alojamento Hoteleiro. Está já há algumas semanas a estagiar num hotel na Quinta do Lago dirigido a um segmento de luxo, o Conrad. Trabalha na receção. "Somos a imagem da empresa, damos as boas vindas ao hóspede e tentamos fazê-lo sentir bem-vindo ao hotel e ao país", explica. A jovem acrescenta que dão todas as informações necessárias, quer seja sobre o resort, quer sobre o que podem ver ou experienciar no em Portugal. "É como nos filmes, em que o agente secreto vai a um hotel e o rececionista sabe tudo", diz a rir.
Os dois jovens fazem parte do rol de estudantes da EHTA que vão estagiar durante todo o verão.
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João Jesus, diretor geral do Domes Lake, o hotel de Vilamoura onde está Samuel, conta que ele próprio começou a carreira como estagiário. Considera que estes alunos são uma mais-valia porque já trazem conhecimentos. O estagiário "é um jovem que precisa de desenvolvimento, mas já traz um background e uma bagagem diferente", sublinha.
Pedro Mendes, diretor de Recursos Humanos do Hotel Conrad tem a mesma opinião. "Já vêm com uma base teórica e uma preparação muito interessante", garante. "Mas também vêm falhar e errar, e o que é mais positivo é que eles conseguem promover alterações positivas", adianta.
O hotel de Vilamoura não recebe apenas estagiários da escola de hotelaria do Algarve, chegam de vários estabelecimentos de ensino do país. "Damos alojamento aos estagiários que necessitam, também para atrair estas pessoas jovens que queremos que venham trabalhar connosco", aponta João Jesus.
Depois da pandemia, o setor do turismo tem passado dificuldades por falta de mão-de-obra.
À semelhança de outras profissões em Portugal, também a hotelaria é mal paga, trabalha por turnos e vive com muitas situações imprevistas. "Tivemos que fazer ajustes salariais nos dois últimos anos para que as pessoas venham trabalhar connosco", admite João Jesus. Quem é como quem diz, foi necessário aumentar salários.
Pedro Mendes, diretor de recursos humanos do Conrad, considera que estes jovens não têm a vida facilitada com os salários que se pagam em Portugal e com o preço da renda das casas, sobretudo no Algarve."Temos que pensar seriamente como queremos preparar o futuro do país para reter estes jovens", sublinha.
Vera Machado, responsável pela receção do Hotel Conrad, onde estagia a aluna Catarina, acredita que quem quer continuar na área tem que possuir um sentimento especial. "Eu gosto muito de utilizar a palavra 'paixão'", enfatiza. " Porque a hotelaria tem tudo a ver com hospitalidade, é feita de pessoas para pessoas, e à volta de expectativas e de encantamento", afirma.
Ali, naquele hotel de luxo, também os estagiários têm que possuir um perfil adequado ao resort porque são tratados como qualquer outro funcionário. "São feitas entrevistas, como se fosse um candidato a trabalho", explica. E o hotel já tem recusado jovens que se apresentam para estagiar.
Apesar de ser uma vida dura, tanto Catarina como Samuel querem continuar a trabalhar no turismo. "Acabamos por ser picados pelo bichinho hoteleiro", admite Catarina, a sorrir.
A jovem garante que aprende todos os dias. Mas os dois alunos consideram que, com a sua formação, se distinguem de outras pessoas. A escola "dá-nos as bases e prepara-nos muito bem", garante a jovem. Samuel admite também que, com a prática e com colegas mais antigos, tem aprendido muitas coisas que a EHTA não ensina. "Há sempre uma maneira diferente de fazer, e eu acabo por perceber que é melhor dessa forma porque eles têm muito mais experiência do que eu", admite o estudante.
Samuel e Catarina são dois dos cerca de 150 estudantes da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve que vão estagiar durante todo o verão nos hotéis.
