Esta quarta-feira foi reeditado o livro do escritor Rui Zink "A Instalação do Medo", escrito em 2012.
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No dia em que fez 60 anos Rui Zink admite que a vitória da seleção portuguesa sobre a Hungria contribuiu para antecipar a celebração do seu aniversário. "Estragou-me o fígado para hoje", diz a rir. "Eu ia só beber uma mini e acabei por beber um arraial de minis", conta.
"Isto parecia o arraial da Iniciativa liberal dentro da minha cabeça", diz com humor. Completar 60 anos não lhe causa angústia: "Eu nunca compreendi as pessoas que não gostam da idade que têm",afirma. "Eu gosto, acho que cada fase da vida é uma aventura".
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No dia em que celebrou o seu aniversário, assinalou também os 35 anos de carreira, com a reedição e apresentação esta tarde do livro a Instalação do Medo, editado pela primeira vez em 2012.
Um livro que fala dos medos instalados na sociedade como a chegada da troika, a ascensão do estado islâmico ou a chegada de movimentos antidemocráticos.
E apesar de ter sido escrito há quase uma década, a atual pandemia já ali é falada, quase que em jeito de premonição. No entanto, o escritor considera que o "Tiranossaurus" do livro é um outro medo: a mudança de modelo social que aponta para que as pessoas em vez de trabalharem para viver, vivem para trabalhar "" E quando deixamos de produzir, de ser funcional, somos descartáveis", lamenta. "Tento sempre em cada década ter um contributo que não seja correr atrás das modas. Fico muito contente que o livro atravesse o tempo e o espaço e haja pessoas que consideram este o livro certo, no tempo certo."
Rui Zink, que escreve sempre com muita ironia e ganhou em 2005 o prémio Pen Clube com o romance Dádiva Divina, considera que neste tempo de pandemia é sensato seguir a ciência e não ir do oito ao oitenta," O que vejo são pessoas que andam de máscara no carro sozinhas e quando se aproximam de alguém para fazer alguma pergunta baixam a máscara. O medo leva-nos a tomar atitudes irracionais".
No dia dos seus 60 anos Rui Zink garante gostar da idade que tem e lembra que teve o privilégio de ter vivido num mundo e num País sempre em mudança." Eu nasci na ditadura, quando fui adolescente o meu País deu-me uma revolução e vivi-a como adolescente. Na idade adulta foi a comunidade europeia e depois as mudanças tecnológicas. "Lembra que os primeiros livros escreveu-os numa máquina de escrever, hoje já não consegue viver sem o computador e " até já escrevo com os dois polegares no telemóvel", diz a rir. " Do ponto de vista criativo diz ter feito " coisas interessantes. Confessa estar "cada vez mais preguiçoso", mas fazendo um balanço e olhando para trás acredita ter sido " um cidadão decente que contribuiu com algumas coisas, uma ou duas por década já não é nada mau", conclui.
Neste dia de celebração o escritor contou que atendeu muitos telefonemas de amigos mas pela manhã teve a surpresa de receber uma multa de França " Se os ouvintes da TSF quiserem ajudar e fazer uma vaquinha, eu agradeço muito", diz com humor.