Acordo para gasoduto prejudica Portugal? Governo fala em "falácias" e exalta "vitória para o país"
Perante as críticas da oposição, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus defendeu que o acordo feito com França e Espanha "valoriza o potencial" de energias renováveis de Portugal.
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O secretário de Estado dos Assuntos Europeus defende que são falaciosos os discursos que acusam o Governo de ter prejudicado os interesses nacionais, com o acordo, alcançado com França e Espanha, para o transporte de energia.
Ouvido esta sexta-feira, na Assembleia da República, no início da apreciação em especialidade do Orçamento do Estado para 2023, Tiago Antunes sublinhou que o acordo conseguido, após uma reunião entre António Costa, Emmanuel Macron e Pedro Sánchez, foi "uma importante vitória para o país".
O acordo foi alcançado na última semana, em Bruxelas, pelos líderes português, espanhol e francês, António Costa, Pedro Sánchez e Emmanuel Macron, e prevê um "corredor", por mar, entre Barcelona e Marselha (em vez de uma travessia pelos Pirenéus), assim como uma ligação entre Celorico da Beira e Zamora.
"Não foi posto, minimamente, em causa aquilo que vinha do passado em relação a interligações elétricas pelos Pirenéus", esclareceu o governante, durante a audição. "Isso não foi, sequer, objeto da reunião [entre os líderes dos três países]. Isso vinha de trás e mantém-se, o que já foi até confirmado pelas ministras espanhola e francesa da energia. Portanto, é um argumento falacioso", frisou.
Tiago Antunes sublinhou também que a ideia de que o acordo obtido prejudica as energias renováveis portuguesas é "completamente descabida". "Pelo contrário, valoriza. Ao ser um pipeline de um gasoduto preparado para hidrogénio verde, valoriza o nosso potencial renovável", referiu.
"Se estivéssemos a falar de um pipeline apenas para gás, o que aconteceria é que o gás chegava a Portugal, provavelmente por Sines, passaria pelo pipeline e chegaria à Europa. Mas nós seríamos um mero ponto de passagem de um produto que não era nosso, de uma matéria-prima que não era nossa", notou o governante.
"Pelo contrário, com o hidrogénio verde, nós temos um potencial enorme de produzir (...) e, portanto, de exportarmos uma matéria-prima feita cá, com muito maior valor acrescentado. Valoriza o nosso mercado de renováveis", insistiu.
Tiago Antunes acusa, por isso, a oposição de "tentar encontrar argumentos" para "dizer mal de uma coisa que é essencialmente boa". "É lamentável que não consigam reconhecer como este acordo desbloqueou um impasse, uma resistência de anos da França."
O secretário de Estado dos Assuntos Europeus abordou ainda o acordo para a energia com a Nigéria, país que tem falhado o fornecimento de gás que fora negociado.
Confrontado com as críticas da oposição, Tiago Antunes desculpou-se afirmando que o Governo não pode prever a ocorrência dos desastres meteorológicos que levaram a estas falhas de abastecimento.
"Portugal precaveu-se, justamente, tendo contratos de longo prazo com a Nigéria que garantem uma segurança de abastecimento", indicou.
"Não podemos é antecipar a existência de situações absolutamente excecionais do ponto de vista meteorológico e os impactos que isso tem. É o chamado 'act of God''. (...) Para isso, de facto, não nos podíamos ter precavido", alegou o secretário de Estado.
A Nigéria avisou, recentemente, que vai sofrer mais falhas na entrega de gás natural liquefeito a Portugal. O país informa que a quebra se deve às cheias que atingiram o território nigeriano e que deverão provocar uma redução substancial na produção e fornecimento desta forma de energia.