Afastar abusadores, agir preventivamente e pedir perdão. Organizações católicas deixam apelos aos bispos
O episcopado português reúne-se na sexta-feira em Fátima para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
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Um grupo composto por mais de 20 organizações e associações católicas apela à Conferência Episcopal Portuguesa que crie uma nova Comissão Independente para continuar a analisar casos de abusos sexuais de crianças na Igreja Católica e dedique um momento solene para pedir desculpas às vítimas.
Numa carta a propósito da assembleia extraordinária marcada para esta sexta-feira, em Fátima, para discutir o relatório tornado publico a 13 de fevereiro, movimentos como o Graal, Nós Somos Igreja, Ação Católica dos Meios Sociais Independente, Metanoia-Movimento Católico de Profissionais, Comunidade da Capela do Rato (Foco ecológico) ou Grupo Sinodal Nós entre Nós sugerem diversas medidas que devem ser adotadas no imediato.
Os subscritores da missiva intitulada "Carta aos bispos da Igreja em Portugal, sobre as mudanças que todos necessitamos de fazer", a que o jornal religioso 7Margens teve acesso, pedem que sejam tomadas medidas em relação "todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja", incluindo a "suspensão com caráter preventivo sempre que haja indícios credíveis sobre abusos".
Já nos casos em que os religiosos sejam "considerados culpados à luz da moral cristã", independentemente de eventuais processos judiciais, devem ser afastados de funções, defende este grupo de católicos.
Apela-se ainda à necessidade de viabilizar apoio e ajuda psicológica, psiquiátrica e espiritual às vítimas de abusos sexuais que o pretendam.
Os subscritores consideram que a crise "tremenda" que a Igreja vive é de todos os que a ela pertencem, pelo que está também na sua mão ajudar os bispos a refletir sobre o caminho a seguir.
Além das medidas urgentes, a carta deixa ainda propostas para adotar a médio prazo, num um horizonte de seis meses, como promover e incentivar o acesso e estudo do relatório da Comissão Independente e suas conclusões aos membros da Igreja, "prevenindo a tentação negacionista ou de relativização do fenómeno criminal"; elaborar "um manual de boas práticas que ajude os agentes pastorais a prevenir situações de risco e a identificar indícios de casos de abusos, bem como a acolher e encaminhar vítimas"; encetar "uma reflexão de fundo sobre o impacto negativo que a perceção distorcida sobre a sexualidade humana tem vindo a causar em toda a Igreja, com a ajuda de especialistas externos"; proporcionar "um acompanhamento aos abusadores que necessariamente inclua tratamento psiquiátrico e psicológico".
O episcopado português reúne-se na sexta-feira em Fátima para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, que validou 512 dos 564 testemunhos recebidos em dez meses.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.