Afinal, já há novo traçado para gasoduto? Costa diz que sim, REN e ministério negam
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O primeiro-ministro tem pressa, mas terá andado mais depressa do que a realidade quando afirmou que o novo traçado do gasoduto que há de integrar o Corredor de Energia Verde "está pronto". À TSF, o Ministério do Ambiente e a Redes Energéticas Nacionais (REN) garantem que o novo traçado do gasoduto que deverá ligar Celorico da Beira a Espanha "está ainda em estudo". Por esclarecer estão também as obras necessárias para que o gasoduto já construído possa transportar hidrogénio.
À saída da reunião do Conselho Europeu, esta sexta-feira, António Costa avançou com detalhes do projeto anunciado na véspera. Entre eles, o traçado: "Claro que tem de ser um novo, o anterior foi chumbado. O novo traçado já está em Avaliação de Impacte Ambiental, estamos a aguardar a decisão da APA, a Agência Portuguesa do Ambiente."
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Só que não foi essa a resposta que nos chegou pela REN, a concessionária a quem o Estado entregou o transporte do gás natural até 2048. Questionada pela TSF, a empresa esclarece que "a REN está a trabalhar no dossier, havendo necessidade de estudar algumas alternativas em determinados sub-troços do projeto inicial. É um trabalho complexo e que envolve múltiplas entidades".
Do lado do Ministério do Ambiente, que tem a tutela da APA, chegou também a resposta de que "decorre, neste momento, o estudo de traçado alternativo por parte da REN na componente que havia suscitado maiores reservas da autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA)", ou seja, no troço que cruzava a paisagem do Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial da UNESCO.
O Ministério do Ambiente calcula como prazo indicativo para conclusão da obra um período de 30 meses e um custo estimado de 300 milhões de euros, aqui a coincidir com o valor apontado pelo primeiro-ministro. Coincide também a fonte de financiamento, de preferência "fundos comunitários", com várias hipóteses em cima da mesa.
Hidrogénio, a quanto obrigas
O que ainda ninguém explicou é quando, como e por quanto serão feitas as obras no gasoduto já construído para que possa servir para aquilo que se anuncia - "transportar sobretudo hidrogénio verde e outros gases renováveis". Comecemos então por ouvir uma especialista sobre o que são "gases renováveis".
A TSF falou com Patrícia Fortes, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que explica que além do hidrogénio verde, "produzido a partir da eletrólise da água com eletricidade renovável, também existe o biometano, este produzido a partir de resíduos de explorações agrícolas, estações de tratamento de águas residuais ou aterros de lixo, e também o metano sintético, que resulta da junção de hidrogénio com CO2".
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Este último pode ou não ser renovável, consoante o tipo de hidrogénio e de CO2 utilizados na sua produção.
Patrícia Fortes avança então para uma distinção que pode ser determinante no custo e na viabilidade de todo o projeto: "Estes gases, o biometano e o metano sintético, têm um comportameno idêntico ao do gás natural" e podem, por isso, usar sem problemas o atual gasoduto da REN.
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O problema é o hidrogénio. "As moléculas de hidrogénio são muito, muito pequenas. Basta dizer que é a molécula mais pequena do universo... Infiltra-se nas moléculas do ferro e do aço do gasoduto e pode produzir fissuras. Por isso é que a literatura aponta para volumes até cerca de 20%" da capacidade do gasoduto. Portanto, é preciso que ocupe ainda menos para que o uso seja seguro.
