Afinal, touradas devem ou não ter financiamento público? Debate aqueceu no Parlamento
Debateram-se propostas do Bloco de Esquerda, PAN, Os Verdes, a deputada não inscrita Cristina Rodrigues e um grupo de cidadãos que esbarraram nos argumentos das restantes bancadas.
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No Parlamento foram debatidos, esta terça-feira à tarde, cinco projetos-lei para impedir qualquer financiamento público aos espetáculos tauromáquicos. Debateram-se propostas do Bloco de Esquerda, PAN,
Os Verdes, a deputada não inscrita Cristina Rodrigues e um grupo de cidadãos que esbarraram nos argumentos das restantes bancadas. No centro da discussão esteve saber-se se as touradas são ou não cultura.
Para Os Verdes, não se trata de proibir, mas acabar com qualquer tipo de apoios públicos a uma atividade longe de ser consensual. Mariana Silva fala de espetáculos que extravasam as fronteiras da cultura.
"As corridas de touros, mesmo sob o prisma de espetáculo cultural, não podem deixar de ser reconhecidas como comportando uma dose efetiva de violência e agressão", argumentou Mariana Silva.
Uma opinião que é partilhada por Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda.
"A agressividade é visível e comprovada. Aliás, pelos vários acidentes a que todos os anos assistimos com mortes e ferimentos de pessoas e animais", afirmou a deputada do Bloco de Esquerda.
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Inês Sousa Real, do PAN, quer acabar com o que diz ser "o alto patrocínio do Estado" às touradas num país onde o dinheiro falta, mesmo para o que é essencial.
"Com tantos sacrifícios que têm sido impostos ao país, permitir que através de financiamentos, diretos ou indiretos, benefícios e isenções se mantenha ligada à máquina dos dinheiros públicos uma atividade fortemente contestada pela sociedade civil e que promove a violência é de uma injustiça social absolutamente incompreensível", atirou Inês Sousa Real.
Pelo PSD, Fernanda Velez tentou desmontar os argumentos. Há cada vez mais espetadores nas touradas e dinheiros do Estado não entram.
"Se existe atividade cultural que não é apoiada pelo Estado é, exatamente, a tauromaquia, que não recebe qualquer apoio do Ministério da Cultura", sublinhou a deputada social-democrata.
Se há apoios de algumas autarquias, a comunista Alma Rivera rejeita o recurso à força.
"Porque rejeitamos proibicionismos e imposições legais, porque achamos que a alteração dos hábitos e costumes está no terreno e não na lei e porque não aceitamos que se ponha em causa a autonomia do poder local, rejeitamos os projetos hoje em discussão", explicou Alma Rivera.
Insistindo que a tauromaquia é cultura, Telmo Correia aponta o mesmo sentido de voto.
"Mais do que uma tradição, a tauromaquia é uma forma de vida para milhares de portugueses, entre campinos, ganadeiros, toureiros e forcados", disse o deputado do CDS.
É uma imposição da ditadura do gosto, disse o deputado do CDS. André Ventura concorda.
"Eu, por exemplo, sou do Benfica. Se pudesse acabava com alguns adversários, mas não posso, é a vida. Aprendam a viver com isso", afirmou André Ventura.
Pelo PS, Maria da Luz Rosinha dá voz ao desempate. Mesmo que as práticas sejam melhoradas há que defender a liberdade de escolha democrática.
"Concordamos que algumas práticas poderão vir a ser alteradas e melhoradas, contando para isso, desde logo, com a evolução das mentalidades e mantendo firme o respeito pela escolha individual de cada um, como todos os dias invocamos quando nos referimos à liberdade de escolha e à democracia em que vivemos e que tanto nos custou a conquistar", acrescentou a deputada socialista.