"Agenda populista e desumana." Mulheres Socialistas acusam Governo de “inequívoco retrocesso” no luto gestacional
“A proposta do Governo ignora que muitas perdas gestacionais ocorrem fora de qualquer decisão médica ou voluntária. Muitas são espontâneas, traumáticas e inesperadas. É precisamente nesses casos que a licença de três dias se aplicava, permitindo um tempo mínimo de luto e dignidade”, sustentam
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As Mulheres Socialistas acusaram este sábado o Governo de querer levar a cabo um “inequívoco retrocesso” no luto gestacional, afirmando que “comunicados de esclarecimento” não vão mascarar o que consideram ser uma “subtração de direitos”.
Em comunicado, o secretariado nacional das Mulheres Socialistas, Igualdade e Direitos (MS-ID) referiu que, nos últimos dias, foi “tornada pública a intenção do Governo de revogar” os três dias de licença remunerada por luto gestacional.
“A concretizar-se, representará um inequívoco retrocesso nos direitos laborais e sociais das famílias, em contexto de perda gestacional”, considerou este órgão do PS, presidido pela deputada Elza Pais.
A MS-ID afirmou que o Governo alegou “falsamente que a licença seria ‘alargada’ de três para 15 dias”, mas frisou que o regime de 15 dias a que o Executivo se refere “já existe e corresponde à licença por interrupção da gravidez, aplicável exclusivamente à grávida, mediante avaliação médica e em qualquer fase de gestação”.
“A licença cuja revogação está em curso é diferente: trata-se de uma licença laboral autónoma, remunerada e sem perda de direitos, aplicável a ambos os progenitores, nas situações de perda gestacional até às 24 semanas”, salientaram.
Para a MS-ID, “a tentativa de fundir juridicamente regimes distintos, com objetivos e fundamentos legais diferentes, configura uma distorção da verdade e um exercício de desinformação inaceitável”.
As Mulheres Socialistas sublinharam que a alteração proposta pelo Governo introduz a “eliminação da possibilidade de ambos os progenitores usufruírem de três dias de luto quando não se verifique uma interrupção médica da gravidez, o que sucede em muitas perdas gestacionais precoces”.
“A proposta do Governo ignora que muitas perdas gestacionais ocorrem fora de qualquer decisão médica ou voluntária. Muitas são espontâneas, traumáticas e inesperadas. É precisamente nesses casos que a licença de três dias se aplicava, permitindo um tempo mínimo de luto e dignidade”, afirmaram, reiterando que a alteração do Governo não representa “qualquer ‘alargamento’, mas sim a eliminação de uma medida de equidade e justiça social”.
“É importante dizer, com clareza: esta alteração representa uma subtração de direitos. O Governo pode tentar mascará-la com comunicados de ‘esclarecimento’, mas a verdade é que não há qualquer ganho. O que há é perda”, consideraram.
Para a MS-ID, o que há é “perda de dignidade, perda de proteção e perda de reconhecimento”.
“O Governo cede novamente a uma agenda populista e desumana que desvaloriza a dor, omite o luto e desumaniza a sociedade, desvalorizando as emoções que envolvem a perda de uma gravidez”, referiram.
As Mulheres Socialistas disseram repudiar, “com veemência, esta intenção política, que desvaloriza a experiência da perda e ignora a vivência emocional e psicológica de milhares de casais”.
“Não aceitamos recuos nos direitos de quem sofre. Não aceitaremos que se apague o luto com falsos pretextos legais, muito menos com falta de verdade e afirmações, desviantes, de que as alterações são no interesse de quem perde. Responderemos sempre”, prometeram.
Na sexta-feira, o gabinete da ministra do Trabalho afirmou que o Governo não pretende eliminar a falta por luto gestacional, garantindo que todas as gestantes "conservam e até aumentam os seus direitos", na reforma da legislação laboral.
"Na eventualidade de interrupção da gravidez, a trabalhadora terá sempre direito ao gozo da licença de 14 a 30 dias, ao invés dos atuais três dias. Já o outro progenitor também terá direito de faltar ao trabalho até a um limite de até 15 dias, ao contrário dos atuais três dias", disse o Ministério do Trabalho Solidariedade e Segurança Social, em comunicado.