Agricultores do Algarve ponderam protestos se os cortes de água chegarem aos 70%
Na tarde desta terça-feira associações de regantes e de agricultores vão reunir com os ministros do Ambiente e Agricultura e pedem tratamento igual às autarquias e turismo.
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Por enquanto os agricultores apostam na via do diálogo, mas se o Governo avançar com um corte de até 70% no consumo de água na agricultura, tal como está previsto, podem vir aí ações de protesto.
Em jeito de aviso, José Oliveira, da Associação AlgarOrange lembra o que está a acontecer na Alemanha.
"Temos a Alemanha paralisada com o protesto dos agricultores e aqui no Algarve,(...) se as coisas não se resolverem, esse é um caminho possível".
O responsável por esta associação produtora de citrinos garante que "gostariam de não chegar a essa solução", mas tudo está em aberto. Unidas, as associações de agricultores e regantes do Algarve exigem tratamento igual ao das Câmaras municipais e do turismo. Depois de terem reunido ontem cerca de uma centena de produtores, mostram-se indignados com o que lhes foi pedido, sobretudo depois de verem que às autarquias foi solicitado um corte de apenas 15% no consumo de água. No encontro com o ministro do ambiente há cerca de duas semanas, os agricultores ficaram a saber que quem se abastece a partir da Albufeira do Funcho terá um corte de 50 %, mas quem vai buscar água à Barragem de Odeleite terá ainda menos disponibilidades hídricas: o corte será de 70%.
Na conferência de imprensa onde estiveram presentes vários representantes dos agricultores, Macário Correia, presidente da Associação de Regantes do Sotavento do Algarve, socorreu-se do Plano de Eficiência Hídrica da Região, um documento elaborado já há alguns anos, para salientar os seus argumentos.
"Isto é um plano publicado pelo Governo e diz que as perdas no ciclo urbano são de 30 hectómetros cúbicos e no setor agrícola de cinco hectómetros", afirma, mostrando o documento. "Quem disse recentemente o contrário, porventura equivocou-se", afirmou, numa crítica ao presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve. Na opinião de Macário Correia,a perda de 30 hectómetros cúbicos equivale a perder água para regar 10 mil hectares. " Isto é um crime e não aceitamos que quem desperdiça água desta maneira seja recompensado com uma redução simbólica de 5%". Macário Correia argumenta que a água perdida nas redes urbanas equivale a uma barragem por ano.
Os agricultores consideram que há obras fundamentais já deviam ter sido feitas há muito tempo pelo Governo e agora a região está apenas a correr atrás do prejuízo. Para fazer face à seca e evitar os cortes drásticos previstos os agricultores pedem medidas urgentes que passam entre outras, pela reativação de furos municipais, pelo abastecimento em aquíferos que tenham água e por obras urgentes nas redes municipais que estão a perder água.