Agricultores multados em Alcochete por se deslocarem de trator nas ruas da vila
O movimento dos agricultores da região de Setúbal olha para esta ação da GNR como uma retaliação depois dos protestos do final da semana passada.
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Vários agricultores da zona de Alcochete foram, esta terça-feira de manhã, multados pelas autoridades quando se deslocavam de trator nas ruas da vila, mas não estavam a promover qualquer protesto. Quem o garante é José Estevão, que faz parte do movimento dos agricultores da região de Setúbal e que olha para esta ação da GNR como uma retaliação depois dos protestos dos agricultores que aconteceram no final da semana passada.
"Hoje pela manhã, nas rotundas de Alcochete, a GNR colocou-se a multar exclusivamente os tratores que passavam por ali na sua atividade normal. Podemos entender como uma retaliação em relação aos acontecimentos da passada quinta e sexta-feira porque não é habitual isto acontecer, nem é desejável porque isto só vai piorar mais ainda a situação. É um bocado injusto. É incompreensível, aliás, este tipo de atuação porque nós suspendemos o movimento numa ação de boa vontade e de dar um tempo à ministra para arranjar solução para os problemas com que nos defrontamos. E essa suspensão que nós fizemos é aproveitada para nos atacarem. Quer dizer que não vai ajudar, de modo nenhum, a situação, ninguém tem dúvidas disso", contou à TSF José Estevão.
Nesta altura está em curso um protesto dos agricultores do Norte do país. Concentrados em Valença, prometem manter-se por lá até serem ouvidos.
Na quarta-feira, em Vila Real, é a vez de saírem à rua os agricultores da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Em declarações à TSF, Pedro Santos, dirigente da confederação, revelou quais as exigências que vão fazer.
"É um problema muito complicado que nós temos a nível da redução da área dos baldios. Nós estamos aqui a falar, para 2024, num corte nas ajudas que pode chegar a 25 milhões de euros na região Norte do país. Uma região que é de minifúndio, em que área dos baldios é essencial para complementar aqui o rendimento dos próprios agricultores e que, para isso, o Governo não tem uma única resposta. Nós questionámos a ministra várias vezes durante a reunião e não houve uma única resposta. Por isso vamos avançar com o nosso protesto amanhã em Vila Real porque tanto aquilo que nos é apresentado a nível europeu, que demora sempre mais tempo, mas mesmo aquilo que nos é apresentado aqui em termos nacionais, não responde àquilo que são os verdadeiros problemas dos agricultores e, em algumas situações, situações ignora completamente que esse problema existe. O problema do mercado e dos preços à produção foi ignorado completamente por este Governo", explicou Pedro Santos.
O dirigente da CNA também desvalorizou o anúncio da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que retira a proposta de redução para metade dos pesticidas usados na agricultura até 2030. Para Pedro Santos, essa promessa não significa nada.
"Isso era uma proposta que tinha sido rejeitada a nível do próprio Parlamento. Esta diretiva que agora a Comissão Europeia abandonou nunca chegou estar em prática. Isto é uma forma também de atirar areia para os olhos dos agricultores. Nós precisamos de uma de uma reforma bastante profunda daquilo que é a política agrícola comum. Falhou a todos os níveis. Aquilo que se está a passar por toda a Europa com os protestos dos agricultores e também aqui em Portugal está essencialmente relacionado com a asfixia financeira que os agricultores têm e com os rendimentos muito baixos que eles têm no final da campanha. A questão das ajudas e do corte das ajudas foi apenas a gota de água, ajudas essas que até que estavam ligadas ao ambiente, à agricultura biológica e produção integrada. Por isso, isto acaba por ser até bastante estranho", acrescentou.
