Através da música e do humor, a Unidade Local de Saúde de Braga (ULSB) pretende consciencializar doentes e familiares para um problema que representa cerca de 30% dos incidentes notificados.
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No último ano, o Hospital de Braga registou 400 quedas, o que corresponde a cerca de 30% dos incidentes notificados. Para diminuir esta realidade, a Unidade Local de Saúde de Braga (ULSB) optou por uma abordagem inovadora.
O Gabinete de Gestão do Risco em parceira com o serviço de Cardiologia, deram uma nova roupagem ao êxito dos Xutos e Pontapés, de 2004, "Ai se ele cai", que passou o ser o hino desta causa que pretende consciencializar doentes e familiares para as boas práticas que garantem maior segurança dentro do hospital.
A inspiração para a criação de uma música que fomente a literacia em segurança chegou do Reino Unido onde utilizam o hit dos Colplay - Yellow. Em três minutos, com uma linguagem simples e sem necessidade de recorrer ao papel, a equipa pretende as “quedas prevenir”.
Desde 2021 que a ULSB tem registado um “ligeiro decréscimo” no número de eventos reportados, contudo, Sílvia Oliveira, coordenador do Gabinete de Gestão do Risco, alerta para o facto de este problema estar ligado ao facto de os doentes serem cada vez mais idosos.
“Notámos que ao longo dos anos a idade média dos doentes que caem tem vindo a aumentar, neste momento, ronda os 70 anos. São doentes que passam cá mais tempo e acabam por ter muitas comorbidades associadas, o que contribui para este resultado”, explica.
Quando os doentes dão entrada no Hospital de Braga é feita uma “avaliação do risco de queda” baseada no historial de quedas, estado de consciência, se tem algum dispositivo associado como um dreno e a sua capacidade de marcha.
Olga Gonçalves, enfermeira gestora do serviço de Cardiologia, que integra o top 3 com mais incidentes, garante que o impacto tem sido positivo.
“Às vezes nem ouvem a música, mas o vídeo é extremamente visual e depois, tendo esta componente do humor, acreditamos que conseguimos chegar às pessoas”, realça.
Os principais incidentes acontecem quando utentes ou familiares não travam as mesas, retiram as grades das camas ou colocam bens pouco acessíveis ao utente como a campainha ou comando da televisão. Outra das razões deve-se à não utilização das meias antiderrapantes facultadas pela unidade hospitalar, por exemplo, durante a noite.
Atualmente, a equipa está a analisar qual a melhor forma de passar esta mensagem aos utentes. “Um folheto é algo que, hoje em dia, está desatualizado. Poucas são as pessoas que se dão ao trabalho de ler”, adianta a coordenadora do Gabinete de Gestão do Risco da ULS de Braga.
Para os utentes, as gravações com o grupo de teatro local, San Martan TV, chegaram como uma lufada de ar fresco. Manuel Vieira, com 80 anos, tem a lição bem estudada e assim que teve companheiro de quarto passou a mensagem.
Em Portugal, segundo os dados do sistema nacional de notificação de incidentes, cerca de 21% do total de casos notificados estão relacionados com quedas. A nível mundial, estima-se que entre 28% e 35% das pessoas com mais de 65 anos sofram pelo menos uma queda por ano, percentagem que aumenta para 32% a 42% em pessoas com mais de 70 anos.
