"Ajuda que troca a vida." Cáritas de Lisboa quer "uma mesa de Natal para todos"
Com "meios limitados" e "dificuldades em garantir a sustentabilidade", a Cáritas Diocesana de Lisboa lança a campanha "Natal à Mesa", para dar às famílias mais carenciadas uma época festiva digna e acolhedora
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"Já ficava contente se todas as famílias pudessem ter um período de Natal sem sentir o peso da falta de recursos." O objectivo do presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) levou a instituição a lançar a campanha "Natal à Mesa". Luís Fragoso lembra que os meios são "limitados" e que a instituição vive "exclusivamente dos donativos". Com o aumento do custo de vida, os "encargos subiram imenso e as receitas diminuíram". Por isso, a Cáritas vive "dificuldades para garantir a sustentabilidade e, sobretudo, a capacidade de acção", ainda mais com a "vaga" de pedidos de imigrantes registada nos últimos tempos.
"Chegam aqui sem eira nem beira e precisam de alguma coisa que os ajude. Chegamos a ter aqui pessoas que vêm directamente do aeroporto", descreve Luís Fragoso.
Até agora, a campanha "Natal à Mesa" recebeu poucos donativos, mas a instituição precisa "absolutamente" destes, até porque o apoio às famílias não se limita ao Natal. Durante o ano passado, a CDL ajudou mais de duas mil famílias, cerca de cinco mil pessoas. Entre elas, 900 crianças e, graças a esse apoio, 200 famílias tornaram-se autónomas.
Foi o caso da ucraniana Iryna Rosokhata e a filha Anastasia. Viviam em Kharkiv e chegaram a Portugal em 2022, fugidas da guerra. Traziam a vida numa mala: "Sem trabalho, sem apartamento, sem roupa, sem nada e sem perceber o que fazer." No primeiro mês, Iryna "chorava todos os dias", teve de "começar a vida do zero", mas "é melhor do que estar debaixo de bombas", salienta, em agradecimento à CDL.
Através da SOUMA, uma associação de solidariedade social apoiada pela Cáritas, Iryna e Anastasia receberam "refeições, roupa, [apoio na] língua, escola, apartamento" e também apoio emocional e psicológico, uma ajuda "fundamental", destaca a cidadã ucraniana.
Hoje, grávida de cinco meses, Iryna, que era gerente de uma loja de souvenirs, tornou-se fotógrafa. Desconhece o futuro, mas sabe que quer viver em Portugal. "Estou feliz aqui", afirma com um sorriso, enquanto a filha Anastasia confessa que tem saudades dos amigos e "gostava de voltar [à Ucrânia], para ver como está a família e a casa antiga, mas não para sempre". "Já não vamos voltar para a Ucrânia."
Em Portugal, encontraram uma "grande família com um grande coração" e dois anos e meio depois da chegada ao país lusitano, Iryna procura retribuir tudo aquilo que recebeu. É voluntária na SOUMA, porque "todos nós, com pequeninas coisas, podemos fazer uma fundamental troca de vida das pessoas que precisam". São pequenos gestos que podem mudar a vida.
A campanha da Cáritas "Natal à Mesa" estende-se até ao início de Janeiro. Os donativos podem ser feitos por transferência bancária ou MbWay.