Nas eleições legislativas, o partido Chega venceu com quase 40% dos votos
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Dolores tem uma banca de venda ambulante na baixa de Albufeira. Estamos em setembro e o turismo já começa a ser menor. Vai compondo a sua mercadoria, desde vestidos para a praia até toalhas de mesa. A qualidade dos turistas que passam por ali é a sua maior queixa. “Isto não é o paraíso, este ano houve muito turismo, mas era turismo de pé rapado”, lamenta.
A TSF questiona Dolores sobre se sente insegurança na cidade: “Não, as pessoas acham tudo mal”, critica.
O concelho de Albufeira tem estado nas “bocas do mundo”, apontado como o local do país onde se regista a maior taxa de crimes participados por cada mil habitantes. Mais do dobro da média nacional, de acordo com os dados do INE. Mas o presidente da câmara de Albufeira, que se recandidata pelo PSD com o apoio do CDS, considera que as contas têm de se fazer de outra maneira: deviam incluir não apenas os residentes, mas toda a população flutuante que, no verão, atinge vários milhares de pessoas.
José Carlos Rolo aponta o dedo a jovens turistas que dão má imagem ao concelho. ”Muitas vezes são menores, 14, 15, 16 anos e o objetivo deles não é ir para a praia”, critica. O autarca sublinha que estes grupos pretendem apenas frequentar a vida noturna de Albufeira, “para consumir álcool e estupefacientes”. “Mas Albufeira não é um lugar inseguro e não é só esta zona dos bares”, enfatiza.
O autarca sublinha que cabe ao Governo reforçar naquele concelho turístico os militares da GNR, não só no verão e lamenta que há uns anos o número de efetivos era maior do que atualmente.
Este ano, a câmara municipal viu-se obrigada a aprovar um código para prevenir comportamentos desadequados na via pública. Nesta matéria, José Carlos Rolo diz que os empresários da noite também têm responsabilidade. ”Se eles próprios criassem regras nos seus estabelecimentos, não era necessário o código de comportamento”, critica.
Os argumentos do PSD são secundados pelo candidato do PS e atual vereador, Vítor Ferraz. É diretor do agrupamento de escolas de Ferreiras e candidata-se na coligação Albufeira É tua. Envolve independentes, o Livre, o Bloco de Esquerda e o PAN. O candidato socialista considera que o tema da segurança tem tomado maiores proporções pela voz do Chega, sem que tenha colagem com a realidade. Sublinha que há problemas, sim, mas de ruído causado pela diversão noturna, um problema que é preciso atacar. “Um concelho turístico tem de ter vida noturna, mas é necessário articulá-la com o direito dos residentes ao descanso”, afirma.
O Chega apresenta como candidato a Albufeira Rui Cristina. Foi deputado do PSD, passou-se para as fileiras do Chega e é atualmente deputado daquele partido. Afirma que a autarquia aprovou o regulamento de comportamentos que entrou em vigor no verão a pensar apenas nas eleições autárquicas.
“Quem é que o vai fiscalizar?”, questiona. Rui Cristina considera que o concelho não tem turismo a mais, precisa é de olhar também para os residentes. ”Tem de haver respeito por quem cá vive”, sentencia.
A falta de habitação e os preços altos da que existe é um dos grandes problemas dos albufeirenses, num concelho onde o turismo dita as regras.
Rui Cristina aponta a falta de um Plano Diretor Municipal (PDM) atualizado como um dos entraves. O candidato tem inúmeros cartazes espalhados onde se lê a frase “Falta de habitação? O Chega resolve”. Como? “Temos uma câmara que nos últimos sete anos fez 40 habitações a custos controlados”, critica. “Nos primeiros quatro anos queremos fazer 500 habitações a custos acessíveis”, garante.
O atual autarca e candidato do PSD, José Carlos Rolo, promete a construção de mil habitações e assegura que, para isso acontecer, tem comprado nos últimos anos terrenos rústicos que, em sede de PDM, podem tornar-se terrenos para construção acessível. Rolo promete ainda construir casas de função para professores, forças de segurança e médicos.
Vítor Ferraz, do PS, argumenta que a meta do PSD é impossível de atingir e que o seu adversário não fala verdade. ”É surreal”, atira. “Nos últimos quatro anos construiram 44 casas”, recorda. “O que queremos fazer é, num mandato, construir 200 a 300 casas e, utilizando a lei dos solos, lançar terrenos para que as pessoas se constituam em cooperativa e construam“, sugere.
Albufeira é um concelho que tem cerca de 49 mil habitantes, um número que mais do que triplica no verão. Aqui, o rendimento médio per capita ronda os 1200 euros brutos.