Alcântara, uma freguesia que a ponte cortou ao meio

"A partir do momento em que uma freguesia é literalmente cortada ao meio para a construção dos pilares e dos acessos, há questões que ficaram pendentes e que neste momento são já aceites por toda a freguesia", diz o presidente da Junta de Freguesia de Alcântara.

Davide Amado descreve o sentimento dos moradores: "não há ninguém que não perceba a necessidade da obra, mas foi muito complicado para muitas pessoas que na altura tiveram de abandonar as suas casas e os seus trabalhos e que tiveram de mudar de vida devido à construção da ponte.

Há 50 anos, Alcântara tinha cerca de 40 mil habitantes: "era a zona da cidade onde havia uma grande força industrial. Vinham pessoas de todo o país trabalhar nas fábricas em Alcântara. Com a construção da ponte muitas fábricas deslocaram-se para a margem sul", recorda Davide Amado. Alcântara foi perdendo habitantes e hoje rondam os 14 mil.

O futebol também sofreu com a ponte: o Atlético Clube de Portugal, fundado em 1942 viu muitos adeptos partirem: "a ponte foi construída exatamente cortando a freguesia junto ao estádio do Atlético, o que fez com que muita gente que ali morava fosse para a margem sul e foi quando o Atlético começou a perder todo o fulgor desportivo que tinha na altura", nota o presidente da junta.

Cada vez mais isolados ficaram também os moradores do bairro ladeado pela Rua da Cascalheira e pela Rua do Alvito. Um bairro onde moram cerca de 600 pessoas, que continuam a ter de usar o acesso à Ponte 25 de Abril como única entrada e saída: "coisas tão simples como ir aos correios, ao banco, ao supermercado ou à Junta de Freguesia, é com alguma dificuldade que as pessoas que ali moram têm acesso a esses serviços", assume Davide Amado.

No ano passado a Junta de Freguesia criou um serviço de transporte comunitário gratuito para facilitar as deslocações dos moradores e o Plano de urbanização de Alcântara prevê a construção de um outro acesso. Mas ainda não há uma data.